31 de mai. de 2018

D. PAIO GALVÃO, Cardeal (1 de Junho)

Dom Paio Galvão foi natural da Vila de Guimarães, filho de Pedro Galvão e de Dona Maria Paez, Cónego Regular de Santo Agostinho, Mestre em Teologia pela Universidade de Paris, Mestre-escola da Colegiada de Guimarães, embaixador a Roma por ElRei Dom Sancho I. O Papa Inocéncio III no ano de 1206 o criou Cardeal Diácono do título de Santa MARIA in Septisolio; depois em 1211 o foi do título de Santa Cecília; depois em 1215 foi Cardeal Albanense. O  Papa Honório III no ano de 1218 o mandou por seu Legado Apostólico com a Cruzada à Conquista da Terra Santa, e no ano de 1225 foi Legado ao Imperador Federico II. Faleceu neste dia [1 de Junho], pelos ano de 1229.

ANO HISTÓRICO - de JUNHO

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ANNO HISTORICO,
DIARIO PORTUGUEZ


Índice de
JUNHO

Dias:

- 1 - I, II, III, IV, V, V, VI.
- 2 - I, II, III.
- 3 - I, II, III, IV.
- 4 - I, II, III.
- 5 - I, II, III, IV.
- 6 - I, II, III, IV, V, VI, VII.
- 7 - I, II, III, IV.
- 8 - I, II, III, IV, V, VI.
- 9 - I, II, III, IV, V, VI, VII.
- 10 - I, II, III, IV.
- 11 - I, II, III, IV, V, VI.
- 12 - I, II, III.
- 13 - I, II, III, IV, V, VI, VII.
- 14 - I, II, III, IV, V.
- 15 - I, II, III, IV, V, VI, VII.
- 16 - I, II, III.
- 17 - I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX.
- 18 - I, II, III.
- 19 - I, II, III, IV, V, VI, VII.
- 20 - I, II, III, IV, V, VI.
- 21 - I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII.
- 22 - I, II, III, IV.
- 23 - I, II, III, IV, V.
- 24 - I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX, X, XI.
- 25 - I, II, III, IV.
- 26 - I, II, III, IV, V, VI, VII.
- 27 - I, II, III, IV.
- 28 - I, II, III, IV.
- 29 - I, II, III, IV, V, VI.
- 30 - I, II, III, IV.



PROTESTO

"Em observância dos Decretos Apostólicos, em nome do Autor, e meu, declaro, que as pessoas, que viveram, e morreram com fama de santidade, e os milagres, e sucessos, que excederem as forças humanas, e se referem neste livro, sem estarem aprovadas pela Santa Sé Apostólica; não têm mais autoridade, ou certeza, que a que dão os Autores, que primeiro as escreveram; e em tudo me sujeito às determinações da S. I. R. - Lourenço Justiniano da Anunciação."

30 de mai. de 2018

NASCE ElRei D. MANOEL (31 de Maio)

No mesmo dia [31 de Maio], em Quinta-feira, ano de 1469 nasceu em Alcochete o felicíssimo Rei D. Manoel: esteve a Infante D. Brites sua mãe em grande tribulação ao tempo do parto: este se dificultava, as dores cresciam, os remédios saiam infrutuosos. Celebrava-se no mesmo dia a festa do Corpo de Deus, e no ponto, em que chegou o Senhor na Procissão às portas da casa, onde o Infante se achava, lutando com os perigos da morte, começou de novo a viver, e a ser mãe de um filho que ditosamente saiu a luz, o qual, se soubera falar, podia dizer com grande propriedade ao mesmo Senhor, o que antigamente lhe dizia David: In te projectus jum ex utero: Saí do ventre de minha mãe a prostrar-me em vossa presença. Nos outros nascimentos, se diz, que influem as Estrelas, neste, influiu o Sol, e Sol Divino; é sempre dúvida, que esta soberana influência promete no recém-nascido Infante um famosíssimo Rei; virá tempo, que o logre Portugal, e o admire o Mundo.

29 de mai. de 2018

LARGA AFONSO D'ALBUQUERQUE A CIDADE DE GOA (30 de Maio)


Neste dia [30 de Maio] largou Afonso de Albuquerque a Cidade e Ilha de Goa, por não se achar com poder de a defender do Hidalcão, e se recolheu com o precioso da Cidade, e com todos os Portugueses na Armada, na qual se defendeu valorosamente de todo o poder do inimigo, e lhe tomou a Vila e Fortaleza de Pangim, aproveitando-se das suas munições de guerra e mantimentos, de que muito necessitava; e sem aceitar as pazes que o Idalcão lhe oferecia, se fez à vela para Cananòr a refazer-se, e a esperar mais oportuna ocasião para vir outras vez sobre Goa, como veio, e a tomou gloriosamente, como noutro lugar diremos.

28 de mai. de 2018

Soror CLARA DE JESUS (29 de Maio)

No mesmo dia [29 de Maio], ano de 1607 no Religiosíssimo Convento da Madre de Deus de Xabregas, passou da vida temporal à eterna, a Madre Clara de JESUS, muito celebrada naqueles tempos pela inocência da sua vida, e pela suavidade da sua voz, a qual empregava nos louvores Divinos com grande frequência e com admirável ternura. Estando já nos braços da morte cantou suavíssimamente aquele Terceto de Santa Teresa:

Vivo sin vivir en mi,
y tan alta vida espero,
que muero, porque no muero.

E vendo, que já se achava muito enfraquecida, e a voz igualmente quebrada, disse com muita graça:

Acaba Sor Clara,
e acaba a sua fala.

Mas ainda cantou três vezes o verso do Salmo 50: Tibi soli peccavi; e com estas palavras na boca, os olhos no Céu, e o coração em seu amado Esposo, acabou ditosamente a vida.

27 de mai. de 2018

Fr. PEDRO DE MELGAR (28 de Maio)

Frei Pedro de Melgar, benemérito filho da Sagrada Religião dos Menores, foi Varão de vida inculpável, primeiro, e principal fundador da Santa Província da Piedade neste Reino, a primeira de Capuchos, que nele houve, donde saíram o Fundadores das outras, que florescem nas Espanhas e Índias. Os Escritores antigos da sua Ordem lhe dão o título de Beato. Faleceu santíssimamente neste dia [28 de Maio], no Convento do Bosque, junto á Vila de Borba, ano de 1516.

26 de mai. de 2018

PROSSEGUE-SE O MILAGRE DO DIA PRECEDENTE (27 de Maio)

No mesmo dia [27 de Maio], ano de 1663 estando na Ermida de N. Senhora da Piedade de Santarém as mesmas pessoas, que no dia precedente ali se acharam, e outras muitas, que concorreram de novo, rogando toas a Deus, por intercessão de sua Santíssima Mãe, para que se apiedasse deste Reino, e lhe desse victória de seus inimigos, tendo todas os olhos nas Soberanas Imagens da mesma Senhora, e de seu Filho morto, se viu patentemente, que a deste Senhor levantava o rosto para cima, e juntamente o corpo, em forma, que ficou muito mais levantado do que estava nos braços da Senhora, ficando os rostos de ambos tão chegados um ao outro, que dificultosamente havia lugar de caber pelo meio deles um dedo, sendo que dantes estavam desviados em forma, que cabia bem uma mão travessa. E outrossim se viu o sangue da mesma Sacrossanta Imagem de cor muito viva, e fresca, estando dantes denegrido, e encoberto.

25 de mai. de 2018

D. FRANCISCO XAVIER DE MENESES, Conde de Ericeira (26 de Maio)

Dom Francisco Xavier de Meneses, Conde da Ericeira, do Conselho de Sua Majestade, Deputado da Junta dos três Estados, Governador da Cidade de Évora, Director e Censor da Academia Real Portuguesa, que ainda felizmente vive, honra e perpetuamente honrará a República Literária, como em tudo filho único, e herdeiro do morgado das letras da casa de seu pai Dom Luiz de Meneses, de quem acima falamos. Querendo fazer comunicável a Universidade das suas belas letras e dirigir corações, tirando destas as especulações inúteis, instituiu no seu palácio um congresso de pessoas eruditas com o título de Academia Portuguesa, cujas Leis se compreendiam em vinte e dois preceitos. Neste dia [26 de Maio], ano de 1717 principiaram as assembleias desta Academia, e se continuaram todas as quartas-feiras de tarde até ser incorporada esta Academia na Real Portuguesa. Naquela, em cada um dos seus Congressos, havia sempre uma lição de Filosofia moral, outra de Filologia, assuntos para dissertações, Matemáticas, Físicas, Morais, e Críticas, e para versos, questões sobre a língua Portuguesa, e um extracto das notícias literárias da Europa. Assistiam às conferências os Senhores Cardeais, Núncios, Embaixadores, e as pessoas mais ilustres, e doutas da Corte.

24 de mai. de 2018

VICTÓRIA RODRIGUES (25 de Maio)

NVila de Portimão do Reino do Algarve, faleceu neste dia [25 de Maio], ano de 1736 em idade de setenta e oito, Victória Rodrigues, mulher, que foi de Manoel Vaz, mareante, a qual havendo nascido em 19 de Maio de 1658 e casando em 6 de Setembro de 1677 viu noventa e um descendentes seus, nos graus de filhos, netos e bisnetos; porque havendo tido onze filhos, dos quais casaram nove, teve deles cinquenta e seis netos, de que só casaram seis, que produziram vinte e quatro bisnetos; e assim, no espaço de cinquenta e nove anos, que há desde o tempo em que casou, deixou vivos oitos filhos, trinta e nove netos, e vinte e quatro bisnetos, havendo-lhe falecidos dezessete netos e três filhos.

23 de mai. de 2018

Fr. JOÃO DE S. TOMÉ (24 de Maio)

Convento de N. Senhora da Graça (Lisboa - Portugal).
Frei João de S. Tomé, Eremita Augustiniano, Pregador e Confessor dos Reis D. João I e Dom Duarte: Varão famoso em letras; e por  elas chamado naqueles tempos o segundo [Santo] Agostinho. Foi um dos Teólogos, que ElRei D. Duarte mandou ao Concílio de Basileia, onde conseguiu merecidas estimações. Depois o mandou Eugénio IV a Constantinopla com o Cardeal Dom Antão Martins, convidar para o Concílio de Florença o Imperador de Constantinopla, negócio, que felizmente se conseguiu; Martinho V lhe deu o nome de Doutor insigne: leu muitos anos Filosofia e Teologia na Universidade de Lisboa com grande aplauso, e igual utilidade dos ouvintes. Faleceu neste dia em longa velhice no Convento de Nossa Senhora da Graça de Lisboa, ano de 1442.

22 de mai. de 2018

DESCOBRE-SE NO BRASIL A PROVÍNCIA DO ESPÍRITO SANTO (23 de Maio)

Catedral Metropolitana de Vitória - E.S
Está situada na Nova Lusitânia a Província do Espírito Santo, em altura de 20 graus a Cidade do Sul da Cidade da Bahia, e se estende por duzentas  e quarenta léguas de Costa, entre as províncias de Bahia, e São Vicente.  A povoação capital, é de quinhentos vizinhos, e por se lhe dar princípio no ano de 1525 neste dia , em que então caiu na festa de Pentecostes, se chamou do Espírito Santo, e deu o nome a toda a Província . Também lhe chama a Vitória, por uma insigne, que alcançaram sessenta e oito portugueses de inumerável multidão de gentios. Está a cidade fundada em lugar eminente a um formoso Rio, com bom porto para navios ordinários, entre densos bosques, e altíssimos rochedos. Nestes, se entende, que tem escondido ricas minas de pedras preciosas; daqueles, se tira copioso bálsamo, medicinal, e frangantíssimo, sangrando os troncos de certas árvores em certos tempos.

[Nota no blogue: Dados do séc. XVIII.]

21 de mai. de 2018

SANTO ATO ou ATÃO (22 de Maio)

Santo Ato, que outros chamam Atão, foi Português (na mais provável opinião) natural de Beja: partiu deste Reino para Roma a visitar os lugares Sagrados daquela Cidade. Atraído da fama que corria por toda a parte, do rigor com que viviam os Monges da Congregação de Valle Umbrosa [Beneditinos, fundado por S. João Gualberto], os foi visitar, e entre eles recebeu o hábito no ano de 1125 onde aproveitou tanto no caminho da perfeição, que transferido para o Bispado de Parma, São Bernardo de Ubersio, Geral que era da mesma Ordem, foi eleito por seu sucessor o nosso Santo Português, oitavo na Série dos Gerais. No tempo do seu governo procedeu com admirável prudência, profunda humildade, e suavíssima mansidão. Edificou de novo muitos Mosteiros, e aperfeiçoou outros muitos. O Clero da cidade de Pistoria [Pistoia] o pediu a Inocêncio II para seu Bispo, e o Pontífice o obrigou por obediência a que aceitasse a Dignidade. Nela, nem mudou o hábito, nem os costumes da Religião: governou aquela Igreja vinte anos com insignes mostras de piedade; passou a logro da Coroa imortal neste dia [22 de Maio], ano de 1153. Na vida, e depois da morte resplandeceu em milagres.

20 de mai. de 2018

CHEGA A LISBOA O FAMOSO DIOGO BOTELHO (21 de Maio)

"Vila de Dio" (Índia).
No primeiro de Setembro de 1535 partiu da Índia (como no mesmo dia dizemos) o valoroso Português Diogo Botelho, e vencidos imensos trabalhos, por mares também por imensos, superadas horríveis tempestades, e sofridas com admirável constância as fúrias e injúrias dos Elementos [naturais], numa embarcação de dezoito pés de comprido e seis de largo, sobre nove meses de viagem, cortando desde o Oriente até o Oceaso, chegou finalmente neste dia [21 de Maio], ano de 1536 com poucos companheiros a Portugal; enchendo o mesmo  Reino de admiração e alvoroço. Este, pela nova que trazia, de terem já os Portugueses Fortaleza em Dio; aquela, pela não imaginada ousadia dos que trouxeram a mesma nova. Estava ElRei D. João III em Almeirim, e mandou que a fusta em que viera Diogo Botelho, fosse levada lá para ver com os olhos, o que não acabava de crer, porque se fazia todos geralmente incrível. Depois lhe mandou pôr o fogo, por sugestão néscia de alguns ministros, que instavam, em que era inconveniente saber o mundo, que um lenho tão leve podia domar de pólo a pólo a fúria, e braveza do Oceano, como se fosse igualmente fácil conhecer os perigos e entrar neles. Não conseguiu Diogo Botelho (posto que ao princípio foi bem recebido) os prémios de que era merecedor por aquela grande façanha; que, enfim, não tem competente satisfação os serviços mais assinalados.

GLORIOSO MARTÍRIO DE S. MANÇOS (II parte)

(ver aqui a I parte)

Altar de S. Manços, bispo e mártir.
Quis Validio com prorrogar a vida, fazer mais cruel o martírio do Santo, e da maneira que estava, pondo-lhe uns grilhões nos pés, o mandou servir numa pedreira, donde se arrancava pedra para as obras públicas da Cidade, e as noites passava no cárcere com os pés metidos no tronco, comendo tão pouca cousa, que dificilmente bastava para viver, quado o não sustentara a graça daquele por quem padecia tantos trabalhos. Viam-no Cristãos e Gentios, uns com lástima, outros com gosto: uns para edificação, outros para escárnio: e todos para admiração de tanta constância e sofrimento: e como no meio de seus trabalhos não deixasse de pregar quanto podia a lei de Jesus Cristo e de converter muitos a seu conhecimento, foi avisado o Presidente que se não pusesse remédio, se batizaria o povo todo, por onde foi chamado o Santo segunda vez a juízo. "Se conheces (lhe disse Valídio vendo-o ante si) que a dilação da morte nasce de minha clemência e a vida conservada entre tantos trabalhos, da benignidade dos deuses, agradecer-lhe-ás a eles o benefício de te darem tempo pra os conhecer e aplacares sua indignação: honra-os com sacrifícios como fazem os  Príncipes do Império, e eu o farei a ti com os cargos e dignidades que couberem em tua pessoa, e quando não ser-me-há força abrandar com ferro  a força de tua contumácia." Lhe tornou o Santo: "A experiência passada e a prontidão para outra semelhante, bastavam para te mostrar o pouco que podem comigo temores de teus tormentos, e o gosto com que me vês buscar a morte, o pouco caso que posso fazer das honras e pretensões da vida. Assim que minha lei é a de Cristo, meu nome é ser de Cristão, minha confissão sempre uma [única], e minha determinação morrer por ela: e se no particular dos deuses queres saber o que sinto, é serem na verdade mortos e insensíveis, e só vivos nas aparências, e não terem mais de divinos, do que nos troncos das árvores, e as pedras dos rochedos." Lhe respondeu Valídio: "perdidos são os bens em que busca descanso nos males, e pois tanto os estimas, fartar-te-e-mos à vontade.Dito isto, o mandou estender no cavalete, e atado mui cruelmente, o fez açoutar com varas, revezando-se os algozes depois de muito cansados, e não farto do muito sangue que lhe via correr de todas as partes do corpo, com novos instrumentos o espedaçaram, e lhe abriram a carne até os ossos, sofrendo o Santo: cansando os algozes; e desesperando Validio de ver sua crueldade vencida de tanta paciência: e como estivesse consigo cuidando algum novo modo de martírio com que satisfazer sua indignação, e lastimar o Santo, ele que sentiu chegar-se a hora de seu trânsito, pelo muito sangue que já tinha derramado, pediu a Deus o recebesse em seu Reino, e ouvindo uma voz do Céu que o chamava a receber a Coroa e palma de triunfo, deu aquela venturosa alma a seu Criador, que muitos dos presentes viram sair, e voar ao Céu em figura de pomba branca, deixando o corpo chagado nas mãos do tirano, que lastimado de ver que lhe faltava sujeito em que executar sua fúria, o mandou tanto que foi noite enterrar num monturo, com os grilhões e cadeias que tinha na ocasião do martírio. E como o tempo a que o levaram foi oculto, e a perseguição fez ausentar os Católicos, perdeu-se a memória do lugar em que o Santo corpo jazia (...)."
(Segunda Parte da Monarchia Lusytana em que se continuam as história de Portugal, etc.)

18 de mai. de 2018

VALOROSO SEBASTIÃO DE SOUTO (19 de Maio)

No mesmo dia [19 de Maio], ano de 1638 morreu na Bahia o valoroso Sebastião Souto, cujo nome era terror dos Holandeses, morreu de um mosquetasso pelos peitos, que recebeu no conflicto do dia (ou noite) antecedente. Era natural de Quintaens [Quintiães] termo da Vila de Barcelos; deixou geral sentimento a perda de um tal homem, em que até então contenderam sem ventagem o valor, e a fortuna. Era incansável nas operações bélicas, repetia prontíssimo as entradas contra os inimigos, sempre com sucessos felizes. Com poder limitado, e volante os trazia, sem cessar, inquietos, e temerosos. Foi excessivo o número dos que a mãos do seu valor, e indústria perderam, ou a vida, ou a liberdade.

17 de mai. de 2018

CHEGA VASCO DA GAMA À ÍNDIA (18 de Maio)

No mesmo dia [18 de Maio], ano de 1498 avistou Vasco da Gama as Serras eminentes à Cidade de Calicut [Calecute], e lançou ferro no porto da mesma Cidade, Côrte do Zamorim, Rei ou Imperador do Malavar; havendo atravessado o grande Golo de setecentas léguas, desde a Costa de África, até aquela remotíssima região, a que propriamente chamamos Índia, situada entre os dois celebrados Rios Ganges, e Indo, a qual deste tomou o nome, cujos habitadores são os nossos Antípodas; e então foi, quando os Portugueses deram a conhecer  o Mundo ao Mundo,  o qual até ali não se conhecia inteiramente a si mesmo.  Então foi, quando fizeram patente, e comprovada uma verdade, que até ali se reputava ficção, então foi, quando lançaram ferro, onde não haviam achado fundo os homens mais sábios. Lactânio Firmano e Santo Agostinho, em muitos partes, negam haver Antípodas: São Gregório Nazianzeno, aprovando a opinião de Pindaro, famoso Poeta Grego, dizia, que não era navegável o Oceano além das Colunas de Hércules, que é o Estreito de Gibaltar. Aristóteles com a sua escola, afirmava, que a Zona tórrida não era habitável, e o mesmo diz Plínio, e Virgílio nas Georgicas, e no Livro sétimo das Eneidas, e Ovidio, no primeiro dos seus Metamorfózeos, e todos os que escreveram sobre esta matéria, foram do mesmo sentimento. Estava antigamente tão assentada esta opinião, que pelos anos de 925 foi preso em Roma Virgílio Bispo Celiburgense, por defender a contrário, e foi castigado com graves penas, e constrangido a dizer-se em público, chegou enfim, neste dia o famosíssimo Português Vasco da Gama com as proas dos seus navios aonde não haviam chegado homens tão grandes, nem ainda com a imaginação.

16 de mai. de 2018

S. NUNTO (17 de Maio)

Antigo emblema da Ordem de Sto. Agostinho
No mesmo dia [17 de Maio], ano de 583 padeceu martírio a mãos de hereges Arianos São Nunto, eremita de Santo Agostinho e Prelado de um Convento, que ele mesmo edificara, junto a Merida, Cidade da antiga Lusitânia, onde vivia com singular fama de Santidade.

Sta. CELERINA, Mártir (17 de Maio)

No mesmo dia [17 de Maio] se renova a memória, de Santa Celerina, ilustríssima Matrona Portuguesa, a qual, havendo abraçado com grande fervor a Religião Cristã, em defensa dela padeceu martírio, imperando Nero.

GLORIOSO MARTÍRIO DE S. MANÇOS (I parte)

Altar de S. Manços, bispo e mártir.
Durando o Império de Nero, e sendo seu Legado na Lusitânia Otho Silvio, Presidente da Cidade de Évora e sua Comarca um romano chamado Validio, sucedeu na mesma Cidade o martírio de S. Manços (...), natural de Romania em Itália (...). ... Começou a pregar na Cidade [de Évora] e converter muitas almas que não podendo resistir à força da verdade, e ao testemunho de milagres com que o Santo acreditava sua doutrina, confessavam a cegueira de sua vida passada, e pediam a regeneração do Santo Batismo. Destes, – diz Angelo Pacense em sua vida –, que tomou alguns Discípulos particulares, em quem conhecia mais fervor e sabedoria, e os mandou pregar, pelos lugares daquela Comarca, de maneira que em breve tempo se estendeu por toda a Província que hoje chamamos dentre o Tejo e Guadriana, a lei de JESUS Cristo, e foi tirada muita parte da grande jurisdição que o Demónio tinha nela mediante a Idolatria; mas ele que via arruinar seu Império, excitou o ânimo de alguns Sacerdotes dos ídolos, que perseguissem o Santo com tanta sede de seu sangue que conveio por então dar lugar ao ímpeto dos infieis e ausentar-se da Cidade, onde andou por diversas partes daquela Comarca, convertendo almas novamente, e confirmando na Fé aquelas que seus discípulos tinham convertido, de maneira que em poucos dias se converteu mais da metade da gente à Fé de Cristo, e os Idólatras temerosos de se acabar totalmente o culto de seus deuses, não cessando a pregação do Santo, o prenderam em certo lugar chamando então Castramanliana, e dali, a pé e carregado de ferros, e muito mais de opróbrios e maus tratamentos, o trouxeram à Cidade, onde estava por governador um Romano chamado Valídio, (…) o qual como estava antes informado dos Idólatras, e desejoso de executar sua ira no Santo, em o vendo diante de si, lhe mandou que desistindo da nova lei que pregava, sacrificasse aos deuses conservadores do Império [protectores daquele Império], ou se dispusesse à experiência dos castigos que mandaria fazer em sua pessoa. Ao que respondeu São Manços: "O segundo partido aceitarei, com melhor vontade por amor de meu Deus, a quem devo esta e muitas vidas [se as tivera], pelas que deu por mim e por comprar meu remédio: que quanto o primeiro de adorar os deuses do império proíbem a lei do Cristão que professo, e conhecimento de sua vaidade, que então foram mais insensível que as pedras, quando sendo homem racional adorara deuses de pedra: por onde, se os tormentos hão de ser testemunhas de minha constância, e a morte o prémio dela, aqui tens este corpo oferecido a tudo, e o ânimo tão firme em seu propósito, que todo o tempo que dispenderem em me tirar dele será mal gastado [para vós]." Responde Valídio: "Brandos te parecem os males antes da experiência deles, mas porque saibas a diferença que há entre falar e sofrer, eu te porei em estado que te convenha mudar propósito." Dito isto o mandou despir e atar a uma coluna (que ainda hoje se guarda na Cidade de Évora (...), e cerrado com grades de ferro (...), onde o açoutaram com tanta crueldade, que ficou seu corpo coberto de sangue, e feito todo uma chaga sem o Santo no meio desta aflição deixar de louvar a Cristo, e lhe dar graças pelo chegar a tempo que aceitasse seu sangue em sacrifício: dava-lhe pressa o tirano, a ele que adorasse os deuses, e aos Ministros de justiça, que avivassem os açoutes, crendo com esta  porfia derrubar sua constância, sem o Santo lhe dar resposta, mais que abominar a falsidade dos Ídolos, e engrandecer a Divindade de Cristo, certificando-o que em nenhum extremo lhe tiraria a Jesus Cristo do coração, nem lhe entraria nele a cegueira da Idolatria. Pelejou por muitas horas a pertinácia de Validio, com a constância do Santo, e ao fim cansou ele e os algozes de dar tormentos, sem o Varão Apostólico se cansar de os padecer: e com promessas de novos martírios o mandou na forma em que estava carregar de ferros, e lançar num cárcere mui escuro, onde lhe apodreceram as chagas e se cobriram de bichos, sem haver quem se compadecesse dele, ao menos para lhe lavar o sangue que ficara congelado dos açoutes.

(Ver continuação, II parte)

15 de mai. de 2018

O Beato Fr. GONÇALO DIAS C. (16 de Maio)

O Beato Frei Gonçalo Dias, Português, natural da Vila de Amarante, onde bebeu primorosas imitações do Santo do seu nome. Tomou o hábito de Converso no Convento Mercenário da Cidade de Lima nas Índias Ocidentais, e subiu com tão velozes passos pelos graus e degraus das virtudes, que chegou em muito breve tempo ao mais alto cume da perfeição. Enriqueceu Deus sua ditosa alma com aqueles soberanos dons, com que costuma, ainda nesta vida, engrandecer os seus mais mimosos Servos; teve o dom de Profecia, e o de conhecer os Segredos do coração, sarava de repente aos enfermos, e moribundos, assistia ao mesmo tempo em lugares distantes. Foi seu glorioso trânsito neste dia [16 de Maio], ano de 1610. Goza em Lima os cultos Bem-aventurados, e em toda Hespanha correm os seus retratos com grandes venerações, como de Varão Santo, e poderoso intercessor para com Deus. Muitos anos depois de sua morte foi achado incorrupto, respirando suavíssima fragrância. Trata-se em Roma da sua Canonização.

14 de mai. de 2018

FUNDAÇÃO DO HOSPITAL REAL DE TODOS O SANTOS DE LISBOA (15 de Maio)

O Suntuosíssimo Hospital de Lisboa, com o nome de todos os Santos, foi invento da piedade delRei Dom João II. Havia naquela Gram Cidade muitos Hospitais, em diferentes sítios, e para enfermidades diferentes. Mas pela maior parte se desencaminhavam as rendas, por andarem por muitas mãos, e não era fácil meter a caminho tanto número de administradores, costumados a tratarem mais de si, que da pobreza. Alcançou ElRei Breve para reduzir a um só todos os outros, e lhe escolheu lugar junto à famosa Praça, chamada do Rócio, e neste dia, ano de 1472 se lhe pôs a primeira pedra, e ElRei de sua mão lançou muitas moedas de ouro, e prata nos alicerces. Consta aquela insigne fábrica de um amplíssimo Templo com um pórtico para a praça do Rócio, que é obra tão maravilhosa em si, quão pouco advertida dos que cada dia a estão vendo. Tem um adro de vinte  e um degraus de mármores com três faces, também cousa singular, e majestosa. Serve-se a Igreja com bom número de Capelães, e moços do Coro, e nela se celebram os Ofícios Divinos com grande pompa, e perfeição. O corpo do Hospital consta de enfermarias para todo o género de enfermidades, onde os pobres são assistidos com tudo quanto lhe é necessário para suas curas sem reparo algum a trabalho, ou dispendio. Tem este Hospital hoje de renda em dinheiro, e em frutos, mais de cem mil cruzados.

[Nota do blogue: Dados do séc. XVIII.]

S. ODEÁRIO, Bispo (15 de Maio)

D. Afonso II
Pelos ano de 792, livrou ElRei Dom Afonso o Casto, da escravidão dos Mouros a Cidade de Braga, ou as ruínas delas; tal era o estado a que a haviam reduzido os infiéis. A sim de as reparar, mandou ElRei vir a Santo Odeário, Bispo, que era de Lugo, o qual com incansável trabalho, e admirável fervor, restituiu em grande parte a Catedral, e outros Templos, e edifícios ao esplendor antigo, e congregando as ovelhas, que com temor dos bárbaros andavam transmontadas, pôs tudo em nova forma, e reforma, com grande crédito seu, e bem espiritual, e temporal daquela Cidade. Cheio de merecimentos, passou a lograr o prémio deles neste dia [15 de Maio], ano de 810.

13 de mai. de 2018

SÃO FREI GIL (14 de Maio)

São Frei Gil, natural de Vouzella, Vila do Bispado de Viseu: foi filho de pais nobres: gastou os primeiros anos no exercício das letras, com a licença que a liberdade, e a opulência costumam produzir em anos verdes, e mal disciplinados: dizem, que o demónio lhe ensinou a arte da Nigromancia, com pacto de renunciar a Fé, e o Baptismo, de que lhe deu escrito firmado do seu próprio sangue. Estando em Paris, no maior descuido da salvação, o rendeu a mão todo poderosa. Apareceu-lhe por vezes um Cavaleiro armado, o qual com palavras de grande espanto lhe dizia, que mudasse a vida. Rendeu-se finalmente, e largando os estudos, voltou para Espanha, e em Paléncia, Cidade de Castela, vestiu o hábito da Sagrada Religião dos Pregadores. Teve nos princípios da sua conversão grandes batalhas com os espíritos infernais, padecendo gravíssimas tentações nascidas em particular do escrito, que lhe dera, o qual foi destituído por meio da Sacratíssima Virgem. A vida que fez, depois que caiu em si, foi tão penitente, tão regulada, tão devota, tão contemplativa, tão fervorosa, que mereceu, apagados os desatinos precedentes, ser contado no número dos Santos. Oh poderes Soberanos da graça Divina! Aquele, que, por tão vil preço condenou a sua alma, pouco depois salvou a sua, e outras sem números, e ilustrou o mundo com exemplos e com prodígios. Morreu santíssimamente neste dia [14 de Maio] no convento de Santarém, onde jaz sepultado.

12 de mai. de 2018

FREI SIMÃO COELHO (13 de Maio)

Frei Simão Coelho, religioso da Sagrada Ordem do Carmo, faleceu no Convento da mesma em Lisboa, neste dia [13 de Maio], ano de 1606 com noventa e dois de idade, e setenta de hábito: foi varão pio, e douto, compôs em quatro volumes a Crónica da sua Religião, e uma Apologia forte e elegante em defensa dela: Compôs mais outras obras, que correm impressas com estimação e aplauso.

11 de mai. de 2018

BEATO D. NUNO ÁLVARES PEREIRA (12 de Maio)

Estátua do Beato Nuno Álvares Pereira junto ao Mosteiro dominicano de Sta. Maria da Vitória  (Portugal).
Dom Nuno Álvares Pereira, nobilíssimo heroi Português, e Atlante da Coroa Portuguesa: Famoso igualmente nas direções políticas, e nos casos militares: Nestes, foi tão singular e tão feliz, que o mesmo era entrar nas batalhas, que vencê-las, e entrou nelas com sucessiva repetição; sendo sempre inferior o seu Campo, superior o dos contrários, e por vezes mais duplicado: foi açoute dos Castelhanos, os quais tremiam até do seu nome: Depois quiseram impor o de ficções às suas proezas; mas nem então lhe puderam rebater os golpes da espada, nem depois escurecer os lustres da memória; elRei D. João I (que foi Rei afortunado, porque teve por Vassalo um D. Nuno Álvares) lhe deu grandes estados, e títulos, e entre outros o de Condestável de Portugal, que depois dele andou sempre nas pessoas Reais; também lhe dava o Reino do Algarve, que ele não aceitou, havendo-se com bizarria tão generosa, quanto fora generosa a oferta. Coroou as suas memoráveis façanhas com a maior de todas, desprezando as vaidades do mundo, e recolhendo-se ao Insigne Convento do Carmo de Lisboa, fundação sua, onde, vestindo o hábito de Donato, acabou a vida santíssimamente. Foi casado com Dona Leonor de Alvim, Senhora muito ilustre, de quem teve uma única filha a Senhora D. Brites Pereira, a qual casou com o Dom Afonso, filho delRei Dom João I que foi o primeiro Duque de Bragança, e por esta via ficou sendo Dom nuno Álvares, Progenitor de todos os Príncipes da Cristandade.
A Igreja de Santo Condestável em Lisboa (Portugal), na ocasião de sua inauguração em 1951.
O corpo de seu padroeiro repousa do interior da igreja. 

O Venerável PADRE ANTÓNIO DA CONCEIÇÃO (12 de Maio)


O Venerável Padre António da Conceição, chamado vulgarmente em Portugal, o Beato António, foi natural da Vila do Pombal, e filho da Congregação do Evangelista, e nela um resplandescente Sol da santidade: como tal, era buscado de toda a nobreza do Reino, e Estado Eclesiástico, e povo, e nele achavam todos, perenes, e admiráveis efeitos de intercessão para com Deus. Com sete tostões, que lhe deram de esmola de umas Missas, deu o princípio à suntuosíssima Igreja de São João Evangelista de Xabregas, e prosseguiu a obra com patentes socorros de providência superior; batendo com o bordão numa penha, saiu dela uma fonte, que ainda hoje por esta causa, se chama a fonte do Santo; e na água da mesma fonte, e terra da sua sepultura experimentam os fieis contínuas maravilhas. A causa da sua Beatificação chegou em Roma aos últimos termos de conseguir-se; mas suspenderam-se as diligências por motivos que não são do nosso assunto. Morreu santíssimamente neste dia [12 de Maio], ano de 1602 com 80 de idade e 50 de Religião.

SÃO CRISPÓLITO, Bispo e Mártir (12 de Maio)

Em Britonia, Cidade antiga da Província dentre o Douro e Minho, situada entre Viana e Ponte de Lima, padeceu martírio São Crispólito, Bispo da mesma Cidade: Depois de atrozes tormentos o serraram os algozes pelo meio, e assim dividido o corpo, voou inteiro, glorioso, e triunfante o espírito a gozar da Coroa imarcescível neste dia [12 de Maio], pelos ano de 316.

10 de mai. de 2018

COMETA NOTÁVEL (11 de Maio)

No mesmo dia [11 de Maio], ano de 1582 em Sexta-feira, apareceu um Cometa o Céu, que nascia sobre o monte de Santa Ana de Lisboa, com o pé numa estrela, e a ponta direita a Almada, a feição era de um ramo de palma muito comprido, durou até vinte e sete deste mês.

SÍNTESE BIOGRÁFICA DO Ven. Fr. ROQUE DO ESPÍRITO SANTO - por Diogo B. Machado

Emblema da Ordem da Santíssima Trindade para a Redenção dos Cativosna fachada da igreja de São Carlos nas Quatro Fontes (1638-1641) em Roma.
Frei Roque do Espírito Santo, era natural da Vila de Castelo Branco do Bispado da Guarda. Teve por pais a Francisco Martins da Costa, Doutor em Direito Civil pela Universidade de Paris e a Inês da Gaia sua primeira mulher [pois na viuvez casou-se uma segunda vez], e por meio irmãos a Bartolomeu da Fonseca Colegial do Colégio Real de S. Paulo, e Deputado do Conselho geral do Santo Ofício: Fr. Egídio da Apresentação, Eremita Augustiniano Catedrático de Véspera em Universidade de Coimbra, e ao Doutor Diogo da Fonseca do Conselho  supremo de Portugal em Castela.

Recebeu o hábito da ilustre Ordem da Santíssima Trindade do Convento de Santarém no ano de 1541, onde depois de estudar as ciências severas, que compreendeu com felicidade e ensinou com sutileza, subiu ao lugar de Provincial por quatro vezes, em cujo exercício reduziu a Religião [a Ordem Religiosa] à sua primitiva observância, e fundou o Colégio de Coimbra, e o Convento de Ceuta. Como o maior brasão do seu instituto seja resgatar os Cristãos do bárbaro cativeiro dos Mouros, se dedicou a este piedoso ministério com tão ardente zelo, que sendo eleito Comissário geral da Redenção libertou 3000 Cristãos que gemiam nas masmorras de África. Meditando ElRei D. Sebastião a jornada de África o dissuadido com forte instância para a não executar, como prevendo o trágico fim que fatalmente o esperava. Recebendo a notícia infausta da batalha de Alcacer pelo Cardeal D. Henrique lhe ordenou que partindo do Convento de Ceuta onde assitia fosse a Marrocos resgar o Duque de Bragança, e outros Fidalgos, cuja incumbência desempenhou com grande crédito da sua prudência. Rejeitou heroicamente as Mitras de Goa, Lamego, e Viseu, sendo o seu maior empenho obedecer, do que mandar.
Chegada a hora de passar para a eternidade, exortou os circunstantes que observassem exactamente o seu instituto, e pedindo-lhes, que cantassem o Credo, naquelas palavras Carnis resurrectionem & vitam aeternam, voou o seu espírito ao Impírio a 11 de Maio de 1590. Foi sepultado no pavimento da Capela mór, com grande concurso de pessoas de ambas as Hierarquias fazendo-lhe o ofício da sepultura o bispo de Targa Deão da Capela Real. Sobre a sepultura se lhe gravou este epitáfio:

Qui jacet hic clarus captivorum juste Redemptor
Exititit, ac hujus Religionis amor.
Ille reformato primus fuit ordine Praeful
Et morum pretio nomen in astra tulit.
Terrestres liquit tractus, renuitque Tyaras
Evolat ad superas vita soluta plagas

Passados 27 anos que  estava sepultado o seu cadável na Capela mór foi transferido por diligência do Pe. Fr. Rafael Dias, castelhano de nação, Visitador da Província que depois foi Bispo de Mondonhedo a um nicho aberto na parede do Claustro, junto da porta do Refeitório, e a 7 de junho de 1617 se lhe gravou a seguinte inscrição ainda que errada no mês da sua morte:

Venerabilis Pater Fr. Rochus à Spiritu Sancto,
Religionis splendor, virtutum exemplar,
Captivorum solatium, sapientia clarus.
Post multos exantlatos labores pro ipsis quorum plusquam triam militia redemit,
Regni Tyaris contempltis magna captivorum, & Religionis jactura,
maximo omnium desiderio feliciter obiit v. Idus Octobris anno 1590 & hic tumulatus jacet. ..."

(Bibliotheca Lusitana, v. III)

9 de mai. de 2018

NASCE O GRANDE PATRIARCA DA HOSPITALIDADE S. JOÃO DE DEUS (10 de Maio)

Neste dia [10 de Maio], ano de 1495, nasceu o grande Patriarca da Hospitalidade São João de Deus na Vila Montemor-o-Novo. Tomou o Céu por sua conta festejar o seu nascimento com luminárias de um extraordinário resplendor, que cobriu a sua pobre casa; hoje Igreja, e Convento da Religião [ordem religiosa] que fundou; com repiques dos sinos da Paróquia, sem serem movidos por impulso algum humano; e com revelações do que seria o nascido. O que foi, já dissemos noutro dia, e melhor o tem dito, e canonizado a Igreja, e o vemos, e veneramos nos altares.

8 de mai. de 2018

DESBARATA FERNÃO LOPES DE ANDRADE UMA PODEROSA ARMADA SOBRE MALACA (9 de Maio)

Pouco depois de conquistada a Cidade de Malaca pelo Grande Afonso de Albuquerque, se animou um poderoso Gentio de Nação Jào, chamado Pate Unuz, com intento de lançar dela aos Portugueses, e enchendo de expectação os Príncipe vizinhos, pôs no mar uma Armada de noventa velas, guarnecidas de grossa artilharia, grande cópia de munições, e doze mil Combatentes; era então General daquele mar Fernão Lopes de Andrade, ilustre Capitão, o qual apercebendo dezessete velas com trezentos e cinquenta Portugueses, e alguns naturais da terra, saiu a encontrar os inimigos. É desta uma das relações em que sai a público a verdade, com temor de ser tida por ficção: Encontraram-se as duas Armadas, e travando-se em duríssima peleja, que durou muitas horas, veio, finalmente, a declarar-se a vitória pelos Portugueses, postos os Jàos em vergonhosa fugida, ficando grande parte das suas velas, ou na mão dos vencedores, ou metidas a pique, ou entregues ao fogo: Encheu esta vitória (sucedida neste dia [9 de Maio], ano de 1512) de admiração, e terror às Nações confinantes, as quais fundaram de novo na experiência do nosso valor o conhecimento da sua debilidade.

DOM ANTÓNIO FILIPE CAMARÃO (9 de Maio)

Dom António Filipe Camarão, de Nação Índio, e entre os Índios, nobre por nascimento, e nobilíssimo por acções, agregando a si muitos de seus naturais, veio socorrer e servir aos Portugueses nas guerras de Pernambuco, onde militou dezenove anos, sempre com grande nome, e merecida fama de prudente, e valoroso Capitão. Era universalmente  estimado, e se fazia estimar, pela gravidade, juízo, e valor, com que se sabia haver em todas as ocasiões militares, e civis: Pelejou vezes sem número com os Holandeses, e outras tantas vezes os venceu. foi Mestre de Campo de um Terço de Índios, e os trazia tão obedientes, e bem disciplinados, que podiam ser exemplo aos das Nações mais cultas, e mais destras. ElRei D. Filipe IV (em cujo tempo já servia com grande reputação) lhe deu o hábito de Cristo, e licença para usar de Dom, e o posto de Capitão General dos Índios do Brasil. Foi não menos religioso, que soldado: Nunca entrou em batalha, sem primeiro se prevenir com os Sacramentos: ouvia todos os dias Missa, e todos os dias rezava o Ofício de N. Senhora; faleceu neste dia [9 de Maio] com grandes mostras de piedade, ano de 1648.

A SENHORA D. MARIA PRINCESA DE PARMA (8 de Maio)

D. Maria de Portugal
(by António Moro - 1550)
A Princesa D. Maria filha mais velha dos Infantes D. Duarte, e D. Isabel, foi dotada de singulares virtudes, e excelentes prendas: Falava a língua Latina com expedição, e elegância admirável; da Grega teve muitas notícias, assim da Filosofia, e Matemática, e de outras Ciências; na lição da Sagrada Escriptura, se empregava com aplicação particular, e dela, e dos Santos Padres colheu muitas sentenças de que usava na prática, e com que se a fervorava no amor de Deus, e das virtudes, e ascendia o mesmo amor, nos corações dos que a ouviam. Passava muitas horas do dia em Oração mental, muitas na vocal, e muitas em tecer, ou coser para ornato dos Templos, ou para abrigo dos pobres. Foi honestíssima em palavras, e acções, e dizia: Que da virtude da honestidade, mais que de outra alguma se deviam prezar, e gloriar as mulheres; por esta causa se furtava (quanto lhe era possível) aos actos públicos, e muito mais aos livros em que achava a menor sombra de indecência. Jamais quis dar o braço a algum dos Cortesões que a serviam: Estilo que sempre teve mais melindre, que de necessidade. Desposada com o Príncipe Alexandre Farnezio, terceiro Duque de Parma, e de Placência, Alferes mór da Igreja, e famosíssimos Governador de Flandes. E conduzida a Flandes (como em outros lugares dizemos) partiu para Itália, onde foi recebida com grandes festas, e maiores admirações das suas estremadas virtudes; com o exemplo delas reformou a Cidade de Parma, e especialmente o Palácio; fez arrancar muitos abusos que havia, e introduziu vários exercícios de devoção; e piedade: Teve dois filhos e uma filha, que foram das suas Orações: Rainuncio, sucessor da Casa, e, Odoardo Cardeal de Santo Eustáquio, Bispo Tusculano, e Margarida Duquesa de Mantua,... foi Freira em Placência. Aplicou-se com vigilantíssimo cuidado em os criar no amor e temor Santo de Deus e, amando-os, mais que a sua própria vida, dizia com muitas veras: Que antes os queria ver mortos, do que caídos em alguma culpa grave: Dito, que aprendeu da Rainha D. Branca mãe de S. Luís [IX]. O príncipe seu marido a venerava, não só como a Santa, mas como a poderosa protectora; na célebre batalha de Lepanto entrou com ímpeto juvenil numa galé de Turcos, e esteve em grande perigo de perder a vida, ou a liberdade; e estranhado-lhe seu tio D. João de Áustria aquele extremo valor, que tocava em temerário, lhe respondeu: Que lhe ficava em casa o seguro de todos os perigos, aludindo às Orações da Princesa sua mulher. No tempo que o Príncipe andou nas guerras (que foi largo) governou os Estados de Parma, e Placência, com suma inteireza, e igualdade: Era negócio de admiração o grande juízo, e acerto, com que resolvia os pontos de maior dificuldade, nas coisas e causas de uma e outra justiça, a que dá os castigos, e a que distribui os prêmios; razão, porque de todos era singularmente amada; e tida em suma veneração.
Correspondeu aos progressos de tão santa vida uma preciosa morte, na qual deu singularíssimas provas de constância, de paciência, de resignação, de desprezo das cousas temporais, e de apreço, e ânsia das eternas. Morreu neste dia [8 de Maio] ano de 1577 em Parma, onde até hoje se conservam vivas a memória, e a saudade desta esclarecida Princesa. Compôs um Directório espiritual, cheio de sentenças dos Santos Padres, e de altíssimas ponderações, que lhe foi achado depois de sua morte entre as suas joias de maior preço, e por ele regulou sempre as suas acções. Escreveu a vida desta Senhora o Padre Sebastião de Moraes da Companhia [de Jesus], seu Confessor, que depois foi o primeiro Bispo do Japão.

7 de mai. de 2018

JURA-SE EM COIMBRA O MISTÉRIO DA CONCEIÇÃO (8 de Maio)


No mesmo dia [8 de Maio], ano de 1639 foi jurado o Mistério da Conceição da Virgem MARIA N. Senhora pelo Sínodo celebrado na Cidade de Coimbra, sendo Bispo Dom João Mendes de Távora.

DESCOBRE-SE A ILHA DE S. MIGUEL (8 de Maio)


No mesmo dia [8 de Maio], ano de 1444 foi descoberta a Ilha de São Miguel, assim chamada em razão da feita que hoje celebra a Igreja ao Arcanjo do mesmo nome. Foi descoberta por Frei Gonçalo Velho, Comendador de Almourol da Ordem de Cristo, mandado pelo Infante Dom Henriques. Dista de Lisboa duzentas e oitenta léguas, tem de comprimento dezoito, de largo sete. É fresca de bons ares, e cristalinas águas. Há nela dez Conventos, trinta e duas Paróquias, cinco Vilas e uma Cidade, que chamam Pontedelgada com uma famosa Fortaleza.

[Nota do blogue: Dados do séc. XVIII.]

O Beato Fr. BERNARDO DE MORLANS (8 de Maio)

O BEATO Frei Bernardo da Ordem dos Pregadores, Religioso de grande Santidade, a quem Cristo Senhor nosso falou por meio de uma imagem sua, em que se representa menino (a qual se venera ainda hoje no Convento da mesma Ordem em Santarém) e o convidou para o banquete da Glória, e juntamente a dois venturosos discípulos seus de pouca idade, aos quais ensinava as boas Letras, e muito melhor os bons costumes. Todos três foram achados mortos ao pé do Altar da Santa Imagem em dia da Ascensão no fim daquela hora em que se representa o mesmo mistério, na qual o mesmo Senhor lhe predissera, que os havia de levar para si. Sucedeu este maravilhoso caso neste dia [8 de Maio], em que então caiu aquela solenidade, ano de 1277.

[Vista 360° do Convento de Cristo: Clicar aqui]

6 de mai. de 2018

D. ISIDORO TRISTÃO (7 de Maio)

Claustros do Mosteiro de Sta. Maria de Alcobaça.
Dom Isidoro Tristão, natural de Portalegre da principal nobreza da Província, Cónego da Congregação do Evangelista, e quarto Geral dela, e depois Dom Abade de Alcobaça, Varão insigne em letras, e virtudes: Por ordem especial do Sumo Pontífice Inocêncio VIII foi reformador das suas Sagradas Religiões [ordens religiosas] Benedictina, e Cisterciense neste Reino. Foi grande parte para a fundação da Ordem da Conceição, que instituiu a nossa insigne [beata] Portuguesa D. Beatriz da Silva, e lhe deu as primeiras Constituições. coroado de boas obras faleceu neste dia [7 de Maio], ano de 1492. 

HERONIO B.C. (7 de Maio)

HERONIO, Arcebispo de Braga, Varão eminentíssimo em doutrina, e santidade, governava aquela Igreja ao tempo em que os Mouros conquistaram Hespanha, e foi singular disposição do Céu,  em que tal tempo tivessem aquelas Ovelhas um tal Pastor, o qual se desvelava em as consolar, e defender por todos os modos, que dita a prudência, e dispõem à caridade. Padeceu gravíssimos trabalhos por esta causa, e coroado de merecimentos, morreu neste dia [7 de Maio], ano de 985. 

5 de mai. de 2018

S. JOÃO DE VAL CLARA (6 de Maio)


São João de Val-Clara, Português, natural de Santarém, varão merecedor a toda a luz de ser (como foi) naqueles tempos comparado com os mais excelentes prelados da Cristandade, assim na perícia, e elegância das línguas Grega e Latina, como na erudição das Sagradas Letras, Santidade, e inteireza de vida. Foi Mestre do glorioso Príncipe, e invicto mártir Santo Hermenegildo. Padeceu grandes perseguições pela Fé, que defendeu valorosamente contra os Arianos. Fundou o célebre Convento de Val Clara  em Catalunha, que lhe deu o sobre nome. Nele morreu neste dia [6 de Maio], ano de 631 com ilustre fama de Santidade. Compôs várias obras, as quais se perderam em grande parte: Perseveram alguns fragmentos delas onde, os doutos, e curiosos reconhecem com grande dor o muito que perderam, nas que sepultou o tempo.

BAPTISMO DO INFANTE D. DINIZ FILHO delRei D. JOÃO III (6 de Maio)

Neste mesmo dia [6 de Maio], ano de 1535 foi baptizado o Infante D. Diniz, filho dos reis D. João III e D. Catarina, por mão do Cardeal Infante D. Afonso seu tio: foram três os Padrinhos, os Infantes D. Luiz, e D. Henrique, e o Duque de Bragança: levou o saleiro o Marquês de Ferreira, e a vela, e a oferta o Conde de Vimioso, o Massapão o Conde de Portalegre.

4 de mai. de 2018

PAINÉIS - Da verdadeira penitência

"Vendo um grande número de fariseus e saduceus que
vinham ao seu baptismo, disse-lhes: «Raça de víboras,
quem vos ensinou a fugir à ira que vos ameaça?
Produzi, pois, verdadeiros frutos de penitência,
e não queirais dizer dentro de vós : Temos Abraão por
pai! porque eu vos digo que Deus pode fazer destas
pedras filhos de Abraão. O machado já está posto à
raiz das árvores. Toda a árvore que não dá bom fruto,
será cortada e lançada no fogo."
(Math. III, 7-10)

3 de mai. de 2018

O DOUTOR BENTO GIL (4 de Maio)

O Doutor Bento Gil, igualmente pio, e douto, nasceu em Beja, estudou em Coimbra, viveu muitos anos, e morreu em Lisboa. Compôs dez tomos, uns de Jurisprudência, e outros de devoção, e todos digníssimos da luz pública, e da aceitação universal.


FUNDA-SE O COLÉGIO DOS IRLANDESES DOMINICANOS EM LISBOA (4 de Maio)

Neste dia [4 de Maio], ano de 1659 Dom Francisco de Sotomayor [Soutomaior], Bispo de Targa, eleito de Lamego, lançou com grande solenidade a primeira pedra no Colégio dos Religiosos Dominicanos Irlandeses da Corte Real de Lisboa, fundado pela Rainha de Portugal D. Luísa de Gusmão.

SÃO SILVANO, Bispo e Mártir (4 de Maio)

O corpo incorrupto de S. Silvano exposto para a veneração dos fieis, numa igreja na cidade de Gaza (Palestina).
São Silvano, Português da família dos Silvas, antiquíssima em Portugal, passou à Palestina, onde foi feito Bispo, e padeceu martírio neste dia [4 de Maio], ano de 303, imperando Diocleciano.