19 de jun. de 2018

FÉRIAS


Caros leitores, o blog SANTO ZELO entrou de férias, pois estarei ocupada noutras tarefas que não poderei adiar. Voltarei dia 2 de Julho.

Fiquem com Deus.
Rafaela

17 de jun. de 2018

D. DIOGO DE SOUSA, Arcebispo de Braga (18 de Junho)

Dom Diogo de Sousa, foi filho de João Rodrigues de Vasconcelos, Senhor de Figueiró, e de D. Branca da Silva, filha de Rui Gomes da Silva, Alcaide Mór de Campo Maior, fidalgos da mais selecta nobreza em Portugal. Estudou neste Reino as primeiras letras, e em Paris e Salamanca as ciências maiores, e saiu insigne Letrado. Logrou as estimações de três Reis sucessivos: ElRei D. João III o fez Deão da sua capela, e Bispo do Porto, e seu Embaixador a Roma de obediência a Alexandre VI. ElRei Dom Manuel o fez Arcebispo  de Braga, Capelão de sua segunda mulher; em todos estes cargos e funções, se houve de maneira que conseguiu merecidos créditos e aplausos universais. Sendo Bispo do Porto tresladou o corpo de São Pantaleão Mártir da Igreja de São Pedro de Miragaia; para a Catedral, com soleníssima procissão (como outro dia diremos). Sendo Arcebispo de Braga ilustrou aquela Cidade com obras tão úteis e suntuosas, que depois delas, parecia outra Cidade nova, com o mesmo nome. Ainda se esmerou mais na Igreja Catedral, e a pôs na grandeza e luzimento, que hoje tem: apenas há parte naquele grande corpo, a que não desse nova forma e nova perfeição. Dilatou-se a sua grandea a toda a Diocese, edificando em várias partes dela novos Conventos, ou reformando os antigos; ao mesmo tempo socorria as necessidades do pobres em mão liberalíssima. A expensas suas foi chamado de Flandes o famoso João Vazeu, para ensinar em Braga as humanidades, o qual depois ilustrou com seus escritos as histórias antigas de toda Espanha. Tantas e tão insignes obras, e muito mais as suas virtudes, o puseram em tão ata reputação, que era tido, sem controvérsia, pelo Prelado mais excelente que viu Portugal naquele século. Morreu neste dia [18 de Junho] com setenta e dois anos de idade, ano de 1532.

16 de jun. de 2018

A Infante D. CATARINA filhe delRei D. DUARTE (17 de Junho)

No mesmo dia [17 de Junho], em Sexta-feira, ano de 1463 sucedeu em Lisboa no Mosteiro de Santa Clara (outros dizem, que no do Salvador) a morte da Infanta D. Catarina, filha delRei Dom Duarte, neta delRei Dom João I, irmã delRei Dom Afonso V, tia delRei Dom João II. A natureza e a graça a enriqueceram de singulares dotes de extremadas perfeições: competia em seu rosto, a formosura e a modéstia, ambas insignemente grandes. Aplicou-se  ao estudo de várias línguas e ciências, em que saiu versadíssima: traduziu da língua Latina no idioma Português com grande felicidade, o livro de Disciplina Monástica, que trata da regra e perfeição dos Monges, composto por São Lourenço Justiniano, que, anos depois, se imprimiu em grande crédito desta Senhora, na qual se viram e comprovaram realçadas, a profunda inteligência, e a curiosa aplicação: outras obras compôs, que o descuido dos antigos sepultou no esquecimento: resplandeceu não menos em virtudes, e soube unir aos aparatos e pompas da Côrte, as solidões e as austeridades do deserto. Foi desposada duas vezes, à primeira com Carlos Príncipe de Navarra e Aragão: a segunda com Duarte IV rei de Inglaterra; mas a morte do primeiro e depois a sua, cortaram um, e outro desposório; mostrando o Céu que a havia destinado para outro, infinitamente superior. Professou a Sagrada Ordem dos Terceiros de São Francisco, e é contada entre as Santas dela. Jaz em Lisboa no Convento de Santo Elói.

15 de jun. de 2018

D. INÁCIA XAVIER (16 de Junho)

No mesmo dia [16 de Junho], ano de 1647 morreu Dona Inácia Xavier, natural da Cidade de Braga. Estudou Filosofia, Matemática e Medicina. Compôs um tomo de Retórica com o título de Arte de bem falar, outro das Antiguidades de Braga.

14 de jun. de 2018

D. BENTA DE AGUIAR (15 de Junho)

Grades divisórias do Mosteiro de Santa Maria de Coz, em Alcobaça (Portugal).
DONA Benta de Aguiar, Abadessa do Mosteiro de Coz da Sagrada Ordem de Cister. Foi Religiosa de insignes virtudes, mimosa de favores, e ilustrações do Céu. Ao tempo da batalha, em que se perdeu ElRei Dom Sebastião, ouviu uma voz, que dizia: Beati mortui, qui in Domino moriuntur. Logo se lhe representou um campo coberto de corpos mortos, e despedaçados, e ouviu outra voz, que dizia: Judicia Dei abyssus multa; e levantando os olhos ao Céu, viu entrar nele um numeroso esquadrão de gente, vestida de roupas brancas, e com palmas nas mãos, e ouviu outra voz, que dizia: Modo coronantur, & accipiunt palmas. Declarou logo a visão ao seu Confessor; e este ao Cardeal Dom Henrique (que então estava em Alcobaça) e logo tiveram por certa a destruição do nosso Exército. Faleceu Dom  Benta neste dia [15 de Junho], com grande fama de santidade, ano de 1579.

13 de jun. de 2018

TORMENTA ESPANTOSA (14 de Junho)

No mesmo dia [14 de Junho], ano de 1449 se levantou em Coimbra uma horrenda tempestade, qual nunca haviam visto os antigos. Era uma hora depois do meio-dia, quando se enlutou o ar, cobrindo-se de tão espessas trevas, como na noite mais escura; serviam de todas as partes os relâmpagos, soavam temerosamente os trovões, caiam furiosos os coriscos e raios, arrasando muitos e fortes edifícios. A chuva era imensa, e com ela caiam pedras de grandeza estranha. Na horta de Santa Cruz chegou a água a altura de dez braças: as ruas pareciam rios caudalosos, o Mondego parecia um mar: as perdas, que causou esta horrível tempestade, foram iguais à fúria dela. 

Fr. JOÃO DE PORTUGAL (14 de Junho)

Frei João de Portugal, nobilíssimo em sangue, como bem mostra o seu apelido [sobrenome]: passou aos Estados de Flandes, onde recebeu o hábito da Religião Seráfica, e floresceu em virtudes, até a morte, sucedida santamente neste dia [14 de Junho], ano de 1525. Jaz no Convento de Chalon da Província de Burgundia.

12 de jun. de 2018

SANTO ANTÓNIO - Pe. António Vieira



"Levante Pádua glorioso mausoléu às sagradas relíquias de António, e veja-se esculpida nas quatro fachadas dele a obediência dos quatro elementos sujeitos a seu império. A terra com os animais prostrados, o mar com os peixes ouvintes, o ar com as tempestades suspensas, o fogo com os incêndios parados. Pendurem-se nas pirâmides por troféus os despojos inumeráveis de sua beneficência, as bandeiras dos vencedores, as âncoras dos naufragantes, as cadeias dos captivos, as mortalhas do ressuscitados e dos enfermos de todas as enfermidades, os votos. Dispa-se a fama, para fazer cortinas a este sacrário, bordadas (como fazia a antiguidade) de olhos, de línguas e de orelhas; das orelhas com que deu ouvidos a tantos surdos, dos olhos com que restituiu a vista a tantos cegos, de línguas com que desimpediu a fala a tantos mudos. E por alma de todo este corpo milagroso, veja-se (como hoje se vê) e adore-se em custódia de cristal a mesma língua de António, depois da morte, viva; antes da ressurreição, ressuscitada; apesar da terra, incorrupta; apesar das cinzas, inteira; apesar da sepultura, imortal; e apesar dos tempos, eterna."
(Pe. António Vieira)

11 de jun. de 2018

Sto. OLÍMPIO, B. C. (12 de Junho)

SANTO OLÍMPIO, português, natural de Lisboa, Varão famosíssimo em letras, e virtudes: por elas subiu à grande dignidade de Arcebispo de Toledo; foi perpétuo flagelo dos hereges Arianos; grande defensor de Santo Atanásio: Venerado sumamente de Santo Agostinho: dele disse o mesmo Santo doutor: Que fora Varão glorioso para com Deus, e para com os homens, e na sabedoria, o compara os Ambrósios, com os Basílios, com os Hilários, com os Ciprianos. Santo Isidoro o pôs no Cânon da Missa, que ainda hoje persevera em Toledo no Missal, a que chamam Moçárabe. São Gregório Nazianzeno lhe escreveu algumas cartas, e nelas lhe chama o Grande Olímpio. Por defender a Fé contra os sequazes de Arrio, foi desterrado para Thracia, onde acabou gloriosamente, oprimido de tribulações, coroado de merecimentos: Dele faz menção neste dia [12 de Junho] o Martirológio Romano.

10 de jun. de 2018

CONFLICTO MEMORÁVEL (11 de Junho)

Pelos anos de 1242 estavam no Algarve, Cristãos e Mouros de tréguas, por alguns dias: Num deles (que é este em que estamos) saíram seis nobres Cavaleiros Portugueses a montear, não longe da Tavira: Eram eles Dom Pedro Rodrigues comendador mór da Ordem de Santiago, Mem do Valle, Damião Vaz, Álvaro Garcia, Estevão Vasques, Valerio de Ora. Os Mouros, que os viram da Cidade, tomaram aquela ousadia por agravo, ou fizeram pretexto dela para executarem o seu ódio, que neles é, como natural, contra os Cristãos. Saíram muitos mil em demanda dos seis, os quais, fazendo-se fortes, como melhor puderam, numa eminência, se defendiam com estupendo valor. Ao mesmo tempo caminhava por aquela parte, Garcia Rodrigues, mercador rico, com algumas cargas, e saindo o que passava, as deixou entregues aos criados, ordenando-lhe que se retirassem, e ele com a espada na mão, rompeu impetuosamente pelos Mouros, e se pôs ao lado dos seis Portugueses. Não há palavras, com que se possa dignamente encarecer o sublime e generoso desta acção! Até agora mercador de fazenda, agora de honra, e da própria vida! Durou o combate muitas horas, até que oprimido o valor da multidão, ficaram os sete Cavaleiros mortos no campo, à custa de muitas vidas de infiéis.

9 de jun. de 2018

O SANTO CRISTO DE BOUÇAS (10 de Junho)

É antiquíssima em Portugal a sagrada imagem de Cristo Crucificado, que o mar lançou nas praias de Matosinhos, uma légua de distância da cidade do Porto. É Tradição constante, que foi feita por Nicodemus, discípulo do Senhor, que como testemunha de vista, e escultor excelente, faria sem dúvida muito conforme ao Divino Original. O mesmo se afirma de outras imagens semelhantes, como são, a de Luca em Itália, a de Burgos em Castela. Faltava à nossa imagem um braço, e por mais que vários escultores  se esforçaram por suprir com outro àquela falta, nunca a obra saiu com tanta perfeição, que suprisse com igualdade a diferença. Era grande, e por este motivo, a pena e desconsolação dos devotos, sucedeu pois, que andando uma mulher junto do mar, viu na areia um pequeno vulto. Não lhe soube distinguir a forma, mas conhecendo que pela matéria, servia para o lume, o voltando para casa, o lançou nas brasas; e vendo que elas o respeitavam, e que o lançava de si, ou reverentes ou medrosas, deu parte daquela maravilha a pessoas de juízo, as quais com fácil exame, reconheceram ser o braço que faltava do Santo Cristo: assim o comprovou a experiência: porque sem diferença do outro, ajustou com admirável proporção. Obra o Senhor invocado nesta santa Imagem contínuas e raras maravilhas.

8 de jun. de 2018

O FAMOSO POETA MANOEL DE GALHEGOS (9 de Junho)

Manoel de Galhegos, insigne poeta do seu tempo, a quem os Castelhanos chamaram novo Camões, e Virgílio português, e lhe deram outros títulos não menos ilustres, mas bem merecidos de seu singular engenho e admirável génio poético, florida eloquência e viva discrição. Compôs vários poemas, mas entre todos o que intitulou, Templo da Memória, lhe fez imortal a sua. Morreu em Lisboa neste dia [9 de Junho], ano de 1665. Jaz na Igreja de São Lourenço.

7 de jun. de 2018

DIOGO MARTINS DA COSTA (8 de Junho)

Diogo Martins da Costa de idade de vinte anos, natural da Praça de Mazagão, filho de Gaspar Álvares Faleiro, Cavaleiro Fidalgo e professo na Ordem de Cristo, e de sua mulher D. Isabel Rodrigues da Costa; servia a ElRei nosso Senhor naquela Praça contra os inimigos da fé, com um cavalo seu. Foi cativo numa peleja, que houve entre os Portugueses e Mouros em 16 de Maio de 1719 no campo chamado do Facho das Lagens, ficando debaixo do cavalo que lhe mataram, não sendo possível nunca livrá-lo por mais diligências que os nossos fizeram; por serem os inimigos mais de quinhentos de cavalo, e outros tantos Infantes. Seu irmão Fernão Gonçalves da Costa, também Cavaleiro da Ordem de Cristo, no ano de 1723 lhe tinha ajustado o seu resgante, e indo Diogo Martins da Costa, que se achava cativo em Mequinez, pedir licença, e carta para Tituão a ElRei, este lhe perguntou: "és Mouro, ou Cristão?", e respondendo ele: "Cristão por graça de Deus"; e o rei lhe disse: "se te converteres à minha Lei, te deixarei com vida"; a que ele [então] repetiu, "que nenhuma cousa o obrigaria a deixar a Religião, que professava" sobre o que mandou o rei, que lhe dessem uma carabina e disparando-a não deu fogo; e pedindo outra lhe sucedeu o mesmo. Vendo Diogo Martins, que sem dúvida lhe tirava a vida a barbaridade daquele Príncipe, começou a pedir perdão dos seus pecados a Deus nosso Senhor, batendo muitas vezes nos peitos; e perguntando o rei aos seus, que era o que fazia aquele Cristão; e dizendo-lhe, que daquele modo pediam os Cristãos misericórdia a Deus, mandou que lhe dessem muita bofetada; mas não satisfeita a sua tirania com este género de tormento, mandou, que todos os da sua guarda lhe atirassem; o que logo executaram fazendo-lhe o corpo em pedaços. Depois do que todos os Príncipes da Côrte, que estavam com o rei, e os da sua guarda, arrancando os alfanges, lhos metiam o corpo para os banharem de sangue Cristão, e alimpando-os, tornavam a ensanguentar, fazendo disto acto de sua religiosidade. Esteve o cadáver exposto a esta barbaridade desde às nove horas da manhã até às três para quatro da tarde, em que foi levado para o Convento, que os Religiosos de São Francisco Recoletos tem na mesma Cidade de Mequinez, os quais o fizeram sepultar num sítio sagrado, que fica uma légua distante da Cidade, onde se costuma dar sepultura aos Religiosos e Cristãos. Sucedeu este caso neste dia [8 de Junho], ano de 1723.

6 de jun. de 2018

FUNDAÇÃO DO MOSTEIRO DE PENHA DE CARMELITAS DESCALÇAS EM BRAGA (7 de Junho)

Pormenor da fachada do Convento em Braga (Portugal).
Neste dia [7 de Junho], ano de 1720 na Cidade de Braga, o Arcebispo Primaz da mesma Cidade Dom Rodrigo de Moura Telles benzeu, e lançou a primeira pedra na Igreja do Recolhimento de Nossa Senhora de Penha de França, a qual, com o concurso do mesmo Arcebispo, se edificou com tanta diligência, que a 8 de Dezembro do ano seguinte de 1721 em que a Igreja celebra a Conceição de Nossa Senhora, benzeu o mesmo Prelado a dita Igreja, e celebrou nela a primeira Missa com grande solenidade. Não satisfeita porém a sua grandeza e devoção, com obra do Recolhimento, mandou nele, no ano de 1724 fazer à sua custa um magnífico Convento; e neste dia, também sete de Junho, do ano de 1727 fez erecção do dito Recolhimento de Nossa Senhora de Penha de França, em Mosteiro de Religiosas Capuchas Descalças da Conceição, sendo sua primeira Abadessa, a Madre Josefa Maria da Assunção, Prioresa e Abadessa, que tinha sido no Mosteiro do Salvador da mesma Cidade, da Ordem de São Bento. No mesmo dia lançou o Arcebispo o hábito de noviças a doze Recolhidas; e se continuou, e festejou esta função com um tríduo solene com grande luzimento, e magnificência, e despesa do mesmo Prelado.

5 de jun. de 2018

NASCE ElRei D. JOÃO III (6 de Junho)

No mesmo dia [6 de Junho], ano de 1592 nasceu no Paço da Alcaçova de Lisboa, o Príncipe Dom João, que depois III do nome foi Rei de Portugal, filho delRei D. Manoel, e de sua segunda mulher a Rainha D. Maria. Ao tempo do seu nascimento se desatou uma terrível tormenta de chuvas, relâmpagos, trovões e raios, qual nunca haviam visto os antigos.

4 de jun. de 2018

O SANTO INFANTE D. FERNANDO (5 de Junho)

O Infante Dom Fernando, sétimo filho delRei Dom João I e da Rainha Dona Filipa, Mestre da Ordem Militar de Avis, foi um dos mais excelentes e virtuosos Príncipes que viu e admirou Portugal. Mostrou vivíssimo engenho para as artes e ciências, e particularmente sobressaiu na Matemática, e foi o primeiro inventor de se conhecerem de noite as horas pelo Norte. No exercício das virtudes, foi um singular prodígio da graça Divina; protector universal dos pobres, e miseráveis; grande venerador das Igrejas e coisas sagradas; muito devoto dos Santos; frequente na oração; contínuo e rigoroso nas penitências, e tão amante da castidade, que guardou a joia da pureza virginal. Os desejos de propagar a Fé, e expugnar o Paganismo, o levaram a Tangere [Tânger], onde não correspondeu o sucesso à  bondade da intenção. Ficou cativo, e em reféns, pela entrega da Cidade de Ceuta (como dizemos em outra parte.) Os votos dos maiores Ministros de Portugal, e de muitos Príncipe da Europa, concordaram em que não se devia entregar aquela Cidade aos Infiéis, e que se devia procurar por outros meios, a liberdade do Infante: Ele mesmo foi um dos que mais persuadiram esta resolução, antepondo o bem da Cristandade à sua maior conveniência temporal. Padeceu duríssimo cativeiro: porque os Mouros, sobre o nativo ódio, que sempre têm aos Cristãos, esperavam, por meio do mau tratamento, apressar a entrega de Ceuta, e quanto a entrega mais se dilatava, tanto era o tratamento mais cruel. Traziam-no pelas ruas públicas da Cidade de Fèz a ser ludibrio da mais vil plebe, igualmente bárbara, e inimiga, da qual era perseguido com injúrias e afrontas, e mal tratado com pedras e imundícias, com que lhe atiravam; faziam-no servir nos exercícios mais vis e de maior trabalho, como, cavar a terra, tratar dos cavalos, varrer as estrebarias, descalço e quase despido, sem outra cama mais que um couro estendido sobre o chão, sem outro sustento para manter a vida, mais que um pedaço de pão do mais grosseiro. Em tanta tribulação e miséria, ainda era maior a conformidade e alegria daquele gloriosíssimo Príncipe, em cujo coração, ardiam tão fervorosos desejos do martírio, que lhe fazia suaves e doces as penas e tormentos, que padecia: posto que tão activos na veemência, como largos na duração. Viveu no cativeiro, quase seis anos, e padeceu outros tantos de martírio; até que neste dia [5 de Junho], ano de 1443 ao pôr do Sol, recebidos os Sacramentos, sendo recreado com celestiais visões, trocou as misérias e calamidades desta vida, pelas felicidades e delícias da que não tem fim. Obrou Deus na sua morte, e depois dela, muitas maravilhas, e seu corpo (que depois foi tresladado ao Real Convento da Batalha) é venerado como de Santo, e dele, como tal, fazem memória, alguns Martirológios.

3 de jun. de 2018

S. DACIANO, Mártir (4 de Junho)

São Daciano, insigne poeta, Filósofo e Jurisconsulto: nasceu em Mérida, cabeça da Lusitânia naqueles tempos. Passou a viver a Roma, onde logrou singulares estimações: o famoso Marcial o louvou mais de uma vez nos seus Epigramas, e coloca  entre os Varões mais insignes daquela idade. O Santo Sumo Pontífice Evaristo [5.º Papa] o converteu à Fé, e por ela sacrificou constantemente a vida, e conseguiu a Coroa de martírio neste dia [4 de Junho] ano de 120.

2 de jun. de 2018

Sto. OVÍDIO, B. C. (3 de Junho)

Santo Ovídio, natural de Roma, da primeira nobreza daquela Cidade, convertido à Fé pelos sagrados Apóstolos São Pedro e São Paulo. Foi mandado a Espanha, e entrando em Portugal, foi pouco depois eleito prelado de Braga, o terceiro, naquela dignidade. Resplandeceram nele todas as virtudes, como em pontual imitador de tão soberanas ideias. É advogado dos ouvidos, em que tem feito maravilhas singulares. Jaz seu corpo na Catedral de Braga, com esta inscrição: Ossa Beati Ovidii Episcopi Bracharensis.

VIRGEM BENDITA SEM PAR


VIRGEN BENDITA SIN PAR
por Pedro de Escobar (Porto, 1465 - Évora, 1535).

Virgen bendita sin par
de quien toda virtud mana
vos sois digna de loar.

Vos sagrada emperadora
deshicisteis el engaño
y remediasteis el daño
de la gente pecadora.

De los ángeles Señora
vos querais tal gracia dar
que no podamos pecar
contra aquel que carne humana
de vos le plugo tomar.

De vos canta Salomón
toda y en toda hermosura
entre las espinas rosa
saliste en perfección.

A vos el alto varón
se humille en devoción
que sois bendita sin par
de quien toda virtud mana
vos sois digna de loar.

1 de jun. de 2018

NAUFRÁGIO DA NAU S. GONÇALO (2 de Junho)

Rechaçada de uma furiosa tempestade, e reduzida ao último perigo de submergir-se, foi demandar a terra na altura do cabo da Boa Esperança a nau São Gonçalo, em que iam 230 pessoas, e de que Capitão Fernão Lobo de Meneses. Acertaram a surgir numa baía, a que chamaram Formosa, por ter de boca 3 léguas e de circunferência 5; lançaram ali ferro; neste dia [2 de Junho], ano de 1630 ainda que a nau se achava aberta por muitas partes, entraram em consideração, se toda via, a poderiam consertar; e sendo preciso esgotar-lhe muita água que trazia dentro em si, desceu a este fim um homem à arca da bomba, que necessitava alimpar-se, e não voltou: desceu segundo e terceiro, e vendo, que não voltavam, lançaram outro atado numa corda, o qual achando mortos os companheiros, fez sinal para que o alassem, e alado velozmente, apareceu em cima quase expirando: era a causa o fertum veementíssimo da pimenta molhada, que de repente lhe sufocava a respiração. Saíram em terra 100 pessoas, ficando na nau 130, perseverando na dúvida de a poderem reparar; mas esta foi a sua total ruína, porque, sobrevindo um horrendo furacão, a levou a umas penhas, onde se fez em pedaços, e quantos nela estavam. qual seria o palmo, e a dor dos que ficaram naquela praia, mais é para considerar-se que dizer-se. Dispostos, porém, a se valerem de todos os meios que podia servir ao seu remédio, trataram de recolher as coisas da nau, que o mar lhe arrojava; e com outras, que antecedentemente havia posto em salvo, e com as que lhe oferecia a terra, por extremo fértil naquele sítio, começaram a passar com alguma comodidade, e a fabricar duas pequenas embarcações, em que outra vez se entregassem ao arbítrio do mar: semearam sementes várias, para lhe lograrem os frutos, e os lograram em grande abundância: assim o peixe que colhiam com muita facilidade: também não lhes faltavam vacas e carneiros, que a troco de ferro, lhes davam os Cafres: falavam estes, não com vozes inteiras, senão com um certo modo de estalos; a sua maior fala é o excremento dos bois, de que se barram: observou-se entre outras particularidades, que na manhã de São João apareceram com coroas de várias ervas. É o país muito sadio, sem pedra alguma, levantado e estendido em montes e vales, e há neles densíssimos arvoredos e muita diversidade de plantas e frutas de excelente sabor e cheiro suavíssimo, há todo género de aves e brutos terrestres e marinhos que conhecemos e de outros não conhecidos. Prosseguiam os Portugueses (suprindo as indústrias a falta de muitos materiais) na fábrica das duas embarcações e finalmente as puseram no mar, divididos, porém, na intenção, porque uns queriam voltar à Índia, e outros prosseguir a jornada à Portugal: os primeiros conseguiram o intento: os segundos, sobre várias calamidades, vieram a perder-se na barra de Lisboa.