Fortaleza de Cananor |
No ano de 1565 veio sobre a Fortaleza de Cananor um numeroso Exército de Çamori [Samori], que se afirma constar de cem mil homens; vinham eles tão firmes na certeza de conquistarem a Praça, que já repartiam entre si os despojos. Chegaram às obras exteriores, e encostando as escadas em circuito, subiram ousadamente mais de dois mil. Aqui se viu um conflicto horrível: laboravam, sem cessar as bocas de fogo, as lanças, as setas, os alfanges, e todo o outro género de armas de que se vale, em semelhantes casos, a ira, e a vingança. Chegaram aos braços, e até os dentes serviram de arma nesta fatal ocasião. O estrondo da artilharia, os brados dos que pelejavam, os gemidos dos que morriam, os corpos em pedaços, o sangue em rios, tudo formava um espetáculo temeroso, e funesto. Venceu, em fim, o valor sobre a multidão, e se retirou o inimigo, deixando a terra juncada de corpo mortos. Estiveram os Sacerdotes, mulheres, e meninos na Igreja pedindo, com enternecidas orações, ao Senhor dos Exércitos, o bom sucesso de tão furiosa batalha, e no maior ardor dela, viram a mesma Igreja, por largo tempo, banhada de uma nova, e resplandecente luz; parece, que prevenia o Céu luminárias a tão grande vitória. Era Governador, e Capitão da nossa gente, Dom António de Noronha, Cavaleiro nobilíssimo, que nesta ocasião obrou nobilíssimas acções.
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