17 de jan. de 2019

D. Fr. JORGE DE SANTA LUZIA (18 de Janeiro)

Porta de Santiago (o que resta das muralhas portuguesas em Malaca).

Dom Frei Jorge de Santa Luzia, natural de Aveiro, Religioso de São Domingos, primeiro Bispo de Malaca, que governou santamente dez anos, e o Arcebispado de Goa quatorze meses, com suas orações, e exercício afugentou da Diocese de Malaca os dragões chamados Ramões, inimigos especiais dos homens, que continuamente matavam muitos, e de noite entravam nas casas, de que ficou livre aquele País até o presente. Por ser o Prelado zeloso, intentaram dar-lhe veneno em uma iguaria, que ele por revelação divina conheceu, mas não descobriu os culpados. Com espírito profético avisou ao Governador de Malaca, que se achava desarmado, e descuidado dos Aches, por haver pazes com eles, que se preparasse, porque na noite do dia seguinte seria a Cidade acometida repentinamente por aqueles fingidos amigos, e com muito grande poder. Todos se riam do aviso, só o Governador, que tinha o Bispo por Santo, lhe deu crédito, e se preparou a esperar os Aches, que com efeito chegaram na seguinte noite com uma poderosa armada, a qual, como era esperada, foi rebatida com perda de muitas naus, e da maior parte dos Aches. Por se achar cansado do muito trabalho, e desejar morrer na sua Religião, renunciou o Bispado, e se retirou para o Convento de São Domingos de Goa. Estavam no porto de Malaca duas naus, uma muito velha, e outra nova, e por mais diligências que se fizeram para que se embarcasse na nova por melhor, e mais segura, não se pode conseguir, que deixasse de se embarcar, como embarcou, na nau velha, que todos avaliavam por muito perigosa; e o servo de Deus com lume profético por mais segura. Assim mostrou o sucesso, porque a nau nova se submergiu no mar com toda a gente, e carga que levava, e a velha chegou com próspera viagem a Baçaim. Com o mesmo dom profético aconselhou, e persuadiu ao grande Vice-Rei, e Capitão General Dom Luiz de Ataíde, que se achava soçobrado, e inquieto com o cerco, que o Idalcão, e outros Reis coligados tinham posto  à Cidade de Goa, que saísse dela com todo o poder que tinha, e fosse acometer o grande Exército contrário no sítio, e passo, que divide a Ilha da terra firme; porque sem dúvida se havia de recolher com glorioso triunfo. Só com este voto, e contra os de todos (que diziam ser temeridade expor ao sucesso  de uma batalha, na qual se se perdesse, se perdia de uma vez toda a Índia) se animou aquele valeroso Capitão com a persuasão que lhe fazia o servo de Deus, saiu, pelejou, venceu, e conseguiu uma das maiores batalhas, que o braço Português ganhou na Índia, de que no seu dia daremos maior notícia. Foi grande bem-feitor da sua Religião. Fundou, e dotou o Convento de Almada da sua mesma Ordem, e sem querer o título do seu fundador, o deu a seu grande amigo o Padre Mestre Frei Francisco Foreiro; porque desde mundo estimava mais a amizade, que a vaidade, e só  de Deus queria a remuneração; Viveu até o fim da vida em santa pobreza, e faleceu neste dia [18 de Janeiro] do ano de 1579.

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