No mesmo dia [4 de Fevereiro], ano de 1517 quis ElRei Dom Manoel experimentar o que se afirmava da antipatia, que tinham entre si o Elefante, e o Rinoceronte, e do modo, e fereza, com que se combatiam; e, como tivesse ambas estas feras em Lisboa, as mandou lançar num pátio grande em Lisboa, as mandou lançar em um pátio grande de Palácio, cercado de paredes altas. É o Rinoceronte na corpulência quase igual ao Elefante, posto que parece menor, por ter as pernas muito mais curtas; a natureza o vestiu de conchas, como de tartaruga, que lhe servem de rodelas, em defensa das principais partes do corpo; tem uma ponta na testa, de palmo e meio de comprido, e de uma palmo de roda muito aguda, e dura como aço. Postas, pois, em campo estas duas feras, se viu, que o Rinoceronte, mostrando uma resolução destemida, caminhava para o Elefante, assoprando pelas vestas com tanta força, que fazia levantar o pó, como se fora um grande pé de vento, o Elefante, dando também grande urros, se pôs em acção de pelejar; mas como era de pouca idade, temeu o combate, e investindo com uma janela, de grades de ferro, meteu a cabeça com tanta força, que cobrou dois varões, e saiu por entre eles, sendo a abertura tão pequena, que apenas cabia por ela um homem. Mas o temor da morte, e a indústria da natureza, lhe deram jeito para poder sair por tão pequeno lugar. Ficou o Rinoceronte mui senhor de si, e do campo, mostrando nos meneios que fazia, o gosto de se ver temido. ElRei Dom Manoel o mandou, neste mesmo ano, ao Papa Leão X com outro presente de peças, e joias de grande valor (não desigual ao que lhe havia mandado três anos antes) mas perdeu-se a Nau na costa de Génova, com tudo o que nela ia, e saindo o corpo do Rinoceronte à praia, lhe tiraram a pele, e foi levada ao Papa, que a recebeu, e viu, e toda Roma, com grande admiração, e espanto, como cousa nunca vista até então em Itália.
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