14 de mai. de 2019

O Príncipe D. TEODÓSIO (15 de Maio)

Príncipe D. Teodósio
No mesmo dia, ano de 1653 com dezanove de idade, três meses, e sete dias, passou do Reino temporal ao eterno o Príncipe Dom Teodósio, filho dos Senhores Reis Dom João IV e D. Luiza. Foi jurado Príncipe herdeiro deste Reinos nas primeiras Côrtes, celebradas em Lisboa, depois da feliz Aclamação. ElRei seu pai, poucos tempos adiante, o nomeou Príncipe do Brasil, e foi o primeiro, que logrou este título, que depois se prosseguiu nos Primogénitos de Portugal, como nos de Castela, o de Príncipe das Astúrias; de Gales, nos de Grã-Bretanha; de Delfins, nos de rança. Desde menino começou o Príncipe (então Duque de Barcelo) a ser nas prendas da natureza, e no dotes da graça, um prodígio, não só singular, mas a toda a luz, admirável. De muito tenra idade já sabia de memória, e repetia nas línguas, Portuguesa, e Latina, os Mistérios da Fé, as Ladainhas dos Santos, e de nossa Senhora, o Credo da Missa, o Prefácio comum, e o Evangelho de São João, com outras Orações da Igreja, somente de as ouvir aos Sacerdotes. Já então eram as suas palavras mui medidas, as suas acções mui reguladas, as suas devoções contínuas, e fervorosas. Com os anos cresceu nas prendas, e virtudes, as mais próprias de um Varão muito reformado, e proveito. Assim vigiava na pontual observância dos preceitos divinos, que se afirma dele, que morreu com a graça batismal. Não só evitava os pecados graves, mas também dos leves, fazia rigoroso exame, e os sujeitava logo às chaves da Igreja no Sacramento da Confissão, que frequentava quase todos os dias; o da Comunhão, todos os Domingos, e dias Santos, e de maior solenidade, e em muitos particulares da sua da Mãe de Deus, e da Virgem Mártir, e Doutora Santa Catarina. Sonhou em uma ocasião, que via seu avô o Duque Dom Teodósio, e que este lhe dizia, que fosse muito devoto de S. João Evangelista, de quem ele o fora sempre: abraçou o Príncipe aquela sonha advertência com tantas veras, que este Santo era o singular emprego da sua devoção, e todos os anos celebrava a sua festa com soleníssimo aparato, e era chamada a festa do Príncipe. Ao amor das virtudes ajuntou o das ciências. Teve agudíssimo engenho, memória felicíssima, e contínua aplicação aos livros; partes, que bastaram a formar nele em pouco tempo um talento superior. Aprendeu a ler, e a escrever, antes de lhe darem mestre, só por um A. B. C. que lhe fez uma sua Aia, para lhe dar a conhecer as letras. Aprendeu no discurso de dois anos a língua Latina, e depois pelo uso, a falava com muita elegância, e facilidade. Teve largas notícias da Grega, e da Hebreia. Chegou a ser tão perito na Filosofia, e Teologia, que admirava (sem ser lisonja) aos homens mais doutos daquele tempo. Com muitos, e por muitas vezes entrava em questões altíssimas e já argumentando, já defendendo, era, não só admiração, mas inveja dos que melhor o faziam nas escolas. Até da Medicina, Direito Civil, e Canónico,  teve luzes não vulgares. Nas artes liberais, e ainda em muitas das mecânicas, foi insigne. Assim mesmo foi mui destro, e airoso no manejo da Cavalaria, e igualmente prático no jogo das armas. Sabia com eminência formar Exércitos, e delinear fortificações. Compôs na língua Latina livros mui eruditos, e curiosos de várias matérias. Um, que se intitula: "Aureum Seaculum", outro: "Macariopolis", nome Grego, que vale o mesmo que "Cidade Santa", outro: "História Universal do mundo", outro: "História do Reino de Suécia", outro: "De Sacramento Altaris", e dedicou, e mandou estes dois últimos à Rainha daquele Reino, com que teve estreita correspondência. Esta foi a esclarecidíssima Cristina, que depois com memorável exemplo, e nunca assaz admirada resolução, pôs aos pés do Vigário de Cristo o Cetro, e a Coroa. Sobre Religioso, e sábio, foi o nosso Príncipe excelentíssimo político, aprendeu esta grande arte, e a mais dificultosa, na lição das histórias, e muito mais no dictames de um alto juízo, e de uma excelente compreensão, e madura prudência, de que o Céu o dotara em tão verdes anos. De treze votava já no Concelho de Estado, e o seu voto era geralmente o melhor. Naquela ocasião fatal, em que os Príncipes Palatinos se refugiaram no Porto de Lisboa, fugindo da Armada Inglesa, que os seguia, requerendo o General Inglês, que lhe fossem entregues, houve grande debate, ente os Concelheiros, sobre a resolução, que se devia tomar em tão perigosa emergência. Mas o Príncipe tirou a dúvida, expedindo em discreto papel muitas razoes cheias e generosidade, e bizarria verdadeira Real, em que se esforçava a persuadir, (e persuadiu com efeito) que se devia antepor a observância da hospitalidade a todas as conveniências, e temores, que se representavam naquele caso. Vendo, que os negócios procediam lentamente, em grane dano (segundo parecia) da conservação do Reino, resolveu passar à campanha, onde foi recebido com extraordinário aplauso, e alvoroço, e começou a dispor as cousas com grande circunspecção, e perícia militar; revestiram-se os Soldados de novos brios, e prometiam ilustres operações; mas as ocorrências daqueles tempos, e os dictames de profundas razões de Estado, o fizeram voltar brevemente à Côrte, onde começou a exercitar o Supremo Império sobre todas as armas da Monarquia. Neste emprego achou mais trabalho, que satisfação, porque o ardor, em que se inflamava, era de campiar na testa do seu exercito, e segurar a defensa dos Países próprios, na invasão dos alheios. Já a este tempo o começava a combater uma prolixa, e perigosa enfermidade, com grande dor, e mágoa excessiva delRei, e de todo o Reino. ElRei o amava, e venerava mais que a filho: umas vezes lhe chamava Pai: outras, irmão mais velho: outras, o seu Salomão. Os Vassalos reconheciam na sua Real Pessoa cifradas as delícias, e as esperanças de Portugal. Sabia o Príncipe acariciar, e render os afectos, e corações de todos: para todos era afável, para todos liberal, para todos benéfico, generoso, brando, compassivo; mas todas estas prendas tão excelsas, e prerrogativas tão altas, cortou a morte em flor, no verdor dos anos, na primavera da vida. Dispôs-se para morrer, como se costumam dispor os Santos, e morreu como um deles, entre suavíssimos colóquios com Deus, e actos finíssimos de verdadeiro amor, e resignação. foi enterrado com Majestosa pompa no Real Templo de Belém, deixando perpetuamente gravadas nos bronzes da fama, e nos corações dos Portugueses, uma gloriosa memória, uma eterna saudade.

Um comentário:

Anônimo disse...

https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2019/06/epoca-negocios-aos-19-anos-brasileiro-e-o-mais-jovem-do-mundo-a-passar-no-mestrado-em-harvard.html