NAUFRAGA A NAU NOSSA SENHORA. DA BARCA (24 de Fevereiro)
Igreja de S. Francisco, Cochim (Índia).
Nos fins de Janeiro do ano de 1559 partiu de Cochim para Portugal, a Nau nossa Senhora da Barca, de que era Capitão Dom Luiz Fernandes de Vasconcelos, na qual vinham quase trezentas pessoas; na altura da Ilha de São Lourenço, acharam os ventos tão rijos, e dos mares tão grossos, e cruzados, que começou a Nau, a fazer água por muitas partes, e por mais diligências, que se fizeram, não largando as bombas de dias, nem de noite, acudindo a esta fadiga, até os Fidalgos, e pessoas principais, negando-se ao descanso, e ao sustento, nada bastou, para que se aliviasse o peso, que os oprimia, e tragava por instantes. Neste último perigo, mandou Dom Luiz lançar o batel ao mar, e nele recolheu até sessenta pessoas, carga excessiva para vaso de tão pequeno porte. Havia-se apartado já o batel da Nau, mas o Capitão o mandou chegar a ela, para recolher ao Padre Frei Fernando de Castro da sagrada Religião dos Menores, Varão de virtude singular, como bem mostrou neste caso: porque, com heroica, e estupenda resolução, disse: Que antes queria perder a vida, do que desamparar tantas almas, que ficava confessando, e consolando como melhor podia; fizeram-se logo os do batel noutra volta, deixando aos da Nau entre prantos, e gemidos, que seriam os ares, e indo ainda à vista dela, a viram ir a pique submergindo-se, em um ponto, aquela grande máquina, e tudo o que ia ela. Sucedeu este lastimosíssimo naufrágio neste dia [24 de Fevereiro], do ano que acima dissemos. Os dos batel, se salvaram finalmente à custa de insuportáveis fomes, e sedes, e por entre imensos trabalhos, e perigos.
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