"Vila de Dio" (Índia). |
No primeiro de Setembro de 1535 partiu da Índia (como no mesmo dia dizemos) o valoroso Português Diogo Botelho, e vencidos imensos trabalhos, por mares também por imensos, superadas horríveis tempestades, e sofridas com admirável constância as fúrias e injúrias dos Elementos [naturais], numa embarcação de dezoito pés de comprido e seis de largo, sobre nove meses de viagem, cortando desde o Oriente até o Oceaso, chegou finalmente neste dia [21 de Maio], ano de 1536 com poucos companheiros a Portugal; enchendo o mesmo Reino de admiração e alvoroço. Este, pela nova que trazia, de terem já os Portugueses Fortaleza em Dio; aquela, pela não imaginada ousadia dos que trouxeram a mesma nova. Estava ElRei D. João III em Almeirim, e mandou que a fusta em que viera Diogo Botelho, fosse levada lá para ver com os olhos, o que não acabava de crer, porque se fazia todos geralmente incrível. Depois lhe mandou pôr o fogo, por sugestão néscia de alguns ministros, que instavam, em que era inconveniente saber o mundo, que um lenho tão leve podia domar de pólo a pólo a fúria, e braveza do Oceano, como se fosse igualmente fácil conhecer os perigos e entrar neles. Não conseguiu Diogo Botelho (posto que ao princípio foi bem recebido) os prémios de que era merecedor por aquela grande façanha; que, enfim, não tem competente satisfação os serviços mais assinalados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário