7 de ago. de 2018

ElRei D. DINIS DE PORTUGAL, COMO JUIZ ÁRBITRO, SENTENCIA E COMPÕE OS REIS DE CASTELA, E DE ARAGÃO, E AO Infante D. AFONSO DE LACERDA (8 de Agosto)

Rei D. Dinis I e D. Isabel de Portugal.
Havia muitos anos, que se disputava em Hespanha um pleito de gravíssimas consequências, entre ElRei de Castela Dom Fernando IV de uma parte, e da outra o Infante Dom Afonso de Lacerda IV, e era toda a questão, sobre a qual do dois pertencia aquele Reino: contendia também sobre o de Múrcia, com o mesmo Rei Dom Fernando, Dom Jaime Rei de Aragão. Estava posto (como sucede em casos semelhantes) o direito dos três no Juízo das armas, e com elas iam destruindo, e arrasando os mesmo Estados, sobre que litigavam. Cansados, enfim, de tanta guerras, e mediando a intervenção do Sumo Pontífice Benedicto XI se concordaram, em que uma, e outra contenda, se decidisse por árbitros, e convieram, que fosse o Árbitro principal o nosso Rei Dom Dinis. Passou ele a Castela, e depois a Aragão, e em Tarraciba se fez um congresso celebérrimo, de tão grande número de Príncipes, qual nunca se viu junto em Hespanha, nem antes, nem depois desta memorável ocasião. Concorreram Dom Dinis Rei de Portugal, Dom Fernando de Castela, Dom Jaime de Aragão: As Rainhas Dona Maria, e Dona Constança, esta mulher, aquela Mãe do Castelhano: Dona Isabel, e Dona Branca, ambas casadas com o de Aragão, uma em divórcio, outra na posse, e Santa Isabel, Rainha de Portugal: Dois Infantes, Dom Fernando, tio delRei de Castela, e Dom Afonso irmão do de Portugal: Duas Infantes, Dona Branca irmã delRei Dom Dinis, e Dona Violante irmã delRei Dom Jaime. este dia [8 de Agosto], ano de 1304 se deram as sentenças, e compostas, e reconciliadas as partes, se recolheu a Portugal ElRei Dom Dinis, deixando admirado o mundo, de que se fiassem da sua inteireza, três partes, que pelos parentescos desiguais, que com todas tinha, o podiam ter por suspeitoso. ainda deixou o mundo mais admirado com as imensas riquezas, que derramou neste jornada, não só com a sua real comitiva, que passava de mil pessoas, sem aceitar, que Castela fizesse despesa alguma, querendo o seu Rei fazê-la toda, mas com as grandes mercês, que fez naqueles Reinos. Pedindo-lhe nesta ocasião, emprestadas sobre certas fortalezas, lhe deu gratuitamente vinte mil. Quando já voltava de Aragão, e Castela, dizendo-lhe um Cavalheiro daqueles Reinos, que de quantas mercês neles fizera, nenhuma lhe chegara. ElRei com gesto alegre lhe respondeu, que ainda tinha, que lhe dar, e com efeito lhe deu logo uma mesa de prata, em que então estava comendo.

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