O Infante Dom Fernando, sétimo filho delRei Dom João I e da Rainha Dona Filipa, Mestre da Ordem Militar de Avis, foi um dos mais excelentes e virtuosos Príncipes que viu e admirou Portugal. Mostrou vivíssimo engenho para as artes e ciências, e particularmente sobressaiu na Matemática, e foi o primeiro inventor de se conhecerem de noite as horas pelo Norte. No exercício das virtudes, foi um singular prodígio da graça Divina; protector universal dos pobres, e miseráveis; grande venerador das Igrejas e coisas sagradas; muito devoto dos Santos; frequente na oração; contínuo e rigoroso nas penitências, e tão amante da castidade, que guardou a joia da pureza virginal. Os desejos de propagar a Fé, e expugnar o Paganismo, o levaram a Tangere [
Tânger], onde não correspondeu o sucesso à bondade da intenção. Ficou cativo, e em reféns, pela entrega da Cidade de
Ceuta (como dizemos em outra parte.) Os votos dos maiores Ministros de Portugal, e de muitos Príncipe da Europa, concordaram em que não se devia entregar aquela Cidade aos Infiéis, e que se devia procurar por outros meios, a liberdade do Infante: Ele mesmo foi um dos que mais persuadiram esta resolução, antepondo o bem da Cristandade à sua maior conveniência temporal. Padeceu duríssimo cativeiro: porque os Mouros, sobre o nativo ódio, que sempre têm aos Cristãos, esperavam, por meio do mau tratamento, apressar a entrega de Ceuta, e quanto a entrega mais se dilatava, tanto era o tratamento mais cruel. Traziam-no pelas ruas públicas da Cidade de
Fèz a ser ludibrio da mais vil plebe, igualmente bárbara, e inimiga, da qual era perseguido com injúrias e afrontas, e mal tratado com pedras e imundícias, com que lhe atiravam; faziam-no servir nos exercícios mais vis e de maior trabalho, como, cavar a terra, tratar dos cavalos, varrer as estrebarias, descalço e quase despido, sem outra cama mais que um couro estendido sobre o chão, sem outro sustento para manter a vida, mais que um pedaço de pão do mais grosseiro. Em tanta tribulação e miséria, ainda era maior a conformidade e alegria daquele gloriosíssimo Príncipe, em cujo coração, ardiam tão fervorosos desejos do martírio, que lhe fazia suaves e doces as penas e tormentos, que padecia: posto que tão activos na veemência, como largos na duração. Viveu no cativeiro, quase seis anos, e padeceu outros tantos de martírio; até que neste dia [5 de Junho], ano de 1443 ao pôr do Sol, recebidos os Sacramentos, sendo recreado com celestiais visões, trocou as misérias e calamidades desta vida, pelas felicidades e delícias da que não tem fim. Obrou Deus na sua morte, e depois dela, muitas maravilhas, e seu corpo (que depois foi tresladado ao Real Convento da Batalha) é venerado como de Santo, e dele, como tal, fazem memória, alguns Martirológios.
Um comentário:
Mais conhecido por "Infante Santo". Só com este nome fica já entre nós identificado. Um mártir, numa história de verdadeira cruzada e Fé.
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