12 de abr. de 2019

PROSSEGUE-SE O CERCO DE MAZAGÃO (13 de Abril)


Sobre trinta dias de fortíssimos combates, que os Mouros repetiam contra a Fortaleza de Mazagão, havendo levantado uma trincheira terraplanada, e tão eminente, que vinha a entrestar com os muros da mesma Fortaleza, os começaram a minar, para os arruinarem de todo; sendo sentida dos Portugueses esta perigosa operação, fizeram logo suas contraminas, uma das quais, desembocando na dos inimigos, eu lugar a que uns, e outros travassem um horrendo conflicto, em que houve muito mortos, e feridos de parte a parte. Mas, depois de larga resistência, ficaram os nossos dominando aquele campo tenebroso, e prontamente deram fogo a suas das suas minas, as quais rebentaram com tanta fúrias, e tanto a tempo, que produziram uma fatal desrtuição em grande número de Turcos, e Mouros, dos mais lustrosos, e destemidos, e com uma, e outra, experiência, acabaram de persuadir-se, a que, nem em cima, nem debaixo da terra estavam seguros do valor, e vingança dos Portugueses, para os quais foi este dia tão alegre, como triste para os inimigos, que já persistiam naquela opugnação com mais porfia, que esperança de algum bom sucesso. Achava-se já na Fortaleza o Governador Álvaro de Carvalho, e já a Rainha Dona Catarina (que então governava o Reino) havia mandado repetidos, e numerosos socorros de gente, munições, e vitualhas, e já os defensores passavam de dois mil e seiscentos, soldados dos velhos, e exercitados nas guerras da África, e da Índia, em que entrava um grande número de nobres, que à porfia concorreram a esta famosíssima empresa. 

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