22 de abr. de 2019

PARTE PARA INGLATERRA A Rainha D. CATARINA (23 de Abril)

Chegando a Lisboa as notícias de se haver ajustado casamento da Sereníssima senhora Dona Catarina, Infante de Portugal com Carlos II Rei da Grã-Bretanha, se receberam, com gerais demonstrações de gosto, e se aplaudiram com majestosas festas de fogos, luminárias, e touros, em que tourearam com igual luzimento, e despreza, os Condes de Sarzedas, e da Torre, e Dom João de Castro. Pouco depois, chegou a Armada de Inglaterra, que havia de conduzir a Infante, e nova Rainha. Constava de quatorze Naus de Guerra, era seu General Duarte de Montegui Conde de Sanduich, com título de Embaixador extraordinário, e vinham nela muitos Cavaleiros ilustres, destinados para o serviço da Rainha, a qual saiu neste dia [23 de Abril], ano de 1662 de manhã da Antecâmara da Rainha Regente à sua mão direita, e dois passos diante elRei Dom Afonso, e o Infante Dom Pedro, e os Oficiais da Casa, Títulos, e Nobreza. Desceram à sala dos Tudescos, e chegando ao topo da escada, que vai dar ao pátio da Capela, se deteve a Rainha mão, como em lugar destinado para as últimas despedidas, e sem consentir, que a sua filha lhe beijasse a mão (como pretendia) a abraçou estreitamente, e lhe lançou a bênção, reprimindo com generoso ânimo os afectos da ternura, entre os decoros da Majestade; mas pouco depois, em lugar solitário, pagaram os olhos a violência, que haviam feito ao coração. Baixou a Rainha de Inglaterra a escada, entre ElRei, e o Infante, seus irmãos; e não cedendo a Rainha mãe às instâncias, que a filha lhe fez repetidas, para que se recolhesse antes de entrar na carroça, entrou enfim depois de uma profunda reverência, a que a mãe correspondeu com outra bênção, voltando as costas antes de entrarem na carroça seus filhos. Nela foi a Rainha à mão direita de ElRei, e o Infante a Igreja Catedral, acompanhados de toda a Nobreza com luzidíssimas galas. Estavam as ruas adornadas com grande pompa, e a espaços se viam arcos triunfantes de admirável pompa, e a espaços se viam arcos triunfais de admirável artifício, e majestade. O som das trombetas, e charamelas, e de outros instrumentos alegres, os repiques dos sinos, o estrondo marcial das salvas da artilharia, os vivas do Povo, tudo formava uma representação por extremo festiva, e plausível. Ouviram Missa os Reis, de dentro da cortina, precedendo sempre no lugar a Rainha, e logo voltaram para o rio, onde os esperava o Bargantim Real, e outros muitos ricamente adornados, em que se embarcaram as Magestades, e os Ministros da Côrte, e Fidalgos, naturais, e estrangeiros, transformando-se de repente o dourado Tejo em uma Cidade portátil, e vistosíssima. ElRei, e o infante, acompanharam a Rainha, sua irmã até a câmara, que lhe estava aparelhada na Capitania de Inglaterra, e quando ambos se despediram, a Rainha os acompanhou até o primeiro degrau da escada, por onde haviam subido, não querendo voltar para a câmara, por mais instâncias, que elRei lhe fez, até que ele, e o Infante, entraram no toldo do Bargantim. No tempo, que duraram estas funções, e no em que se deteve a Armada no rio, se prosseguiram as salvas, e músicas, e outras demonstrações de aplauso, e alegra, até que, largando as velas ao vento, saiu a Armada, de cujo sucesso daremos notícia no dia a que pertence.

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