O admirável, e o prodigioso servo de Deus
Gregório Lopes, Português, natural da nobre Vila de Linhares, peregrino da sua Pátria na idade de dezasseis anos, e depois por trinta e três solitário habitador do novo mundo em um retiro de todo o comércio com ele: contemplativo altíssimo, e tão superior aos afectos da natureza, que no meio de intoleráveis dores, nunca se lhe ouviu um "ai". De espírito tão profundo, e recôndito, que o mesmo demónio não podia conjeturar suas operações. Tão perfeito, que por toda sua vida, nem disse palavra escusada, nem nas suas acções se lhe advertiu imperfeição alguma. De tão rara pureza de consciência, que comungava frequentemente, sem receber o Sacramento da Confissão, porque aquela o não acusava de haver cometido acto algum pecaminoso com advertência. De tão rara união com Deus, que por três anos contínuos, a cada respiração dizia interiormente:
Fiat voluntas tua; e depois passou a acto contínuo de amor do mesmo Senhor, sem interrupção, ainda quando delineava mapas, por ser muito inclinado a Matemáticas. De gravidade tão admirável, que a todos infundia respeito. De atractivo tão singular, que até os Índios mais bárbaros os entranhavelmente o amavam. Tão ilustrado, que lhe infundiu Deus todas as ciências naturais, e sobrenaturais, com que expôs soberanamente o Apocalipse: sabia toda a Bíblia de memória penetrando os maiores segredos dela, com pasmo dos homens mais eruditos; enfim, um dos maiores prodígios da Divina Graça. Viveu, e morreu com verdadeira opinião de santidade, na solidão de Santa Fé, das léguas da Cidade de México, neste dia [20 de Julho], ano de 1596 com cinquenta e quatro de idade.
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