António de Gouvea, Português, natural da Cidade de Beja, excelente Poeta, grande Filósofo, e sapientíssimo Jurisconsulto: criou-se desde a primeira idade em França, e estudou na Universidade de Paris, assistindo com seu tio Diogo de Gouvea, Reitor do Colégio de Santa Bárbara: fez tão grande progressos nas Humanidades, que ninguém em seu tempo escreveu, e falou mais puramente Latim, ou fez melhor os versos na mesma língua. Como fosse igualmente capaz para todas as ciências, se fez tão insigne em todas, como se o empreendera ser só em cada uma: aprendeu, e pouco depois ensinou em Avinhão o Direito Civil, onde o famoso Cujacio afirmava: que só este mancebo tinha achado o melhor modo de dar nos sentidos de Justiniano; e que temia, que a reputação do mesmo havia de escurecer a sua própria, pelos tempos a diante: ensinou depois em Tolosa: depois passou ao Piamonte, e subiu a ser Conselheiro do Conselho secreto de Manoel Filisberto, Duque de Saboia, e logrou com aquele Príncipe as maiores estimações: compôs doutíssimos volumes de Direito Civil, em que bem comprovou a felicidade, profundidade do seu engenho. Morreu na Côrte de Turim, neste dia [21 de Julho], ano de 1565.
Deixou um filho, por nome Manfredo de Gouvea, que também foi Conselheiro de Estado do Duque de Saboia Carlos Manoel, e do Senado de Turim; e foi também homem doutíssimo em Humanidade, e Direito Civil, e como tal, escreveu elegantíssimos versos, vários consultos Jurídicos, e excelentes Comentários In Julium Clarum, e outras obras engenhosas; ignoramos o ano, e dia de sua morte.
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