No mesmo dia [28 de Agosto]. ano de 1481 morreu no Palácio de Cintra na mesma casa, em que nascera, ElRei Dom Afonso V com quarenta e nove anos de idade, e quarenta e três de Reinado. Casou com a Rainha Dona Isabel, filha de seu tio o Infante Dom Pedro, de quem teve ao Príncipe Dom João, que morreu menino, a Princesa Santa Joana, e o Príncipe Dom João seu sucessor, Rei II do nome de Portugal. Jaz no Real Convento da Batalha. Falava, e escrevia com cuidado, e elegância. Foi Príncipe com mais prendas de homem, que de Rei. Inclinou muito para o extremo benevolência, e brandura, com ofenda da Magestade, donde veio o dizer-se dele, que foram melhor homem, que Rei. Nas cousas da Justiça, e governo político foi remisso. Nas dádivas antigo prodigo, que liberal. Na continência foi raro: afirma-se, que sendo viúvo de vinte e três anos, nunca mais conheceu mulher alguma. Foi o primeiro Rei de Portugal, que ajuntou livraria em Palácio. Tratava, e amava com singularidade homens doutos, e virtuosos. Facilmente se permitia aos olhos do povo, contra o estilo, que haviam observado seus predecessores. Nas armas foi pronto, e animoso, e tocava talvez em temerário. Passou a África em pessoa três vezes, e conquistou a Alcácer Ceguer, Arzila, e Tânger; razão, porque lhe chama o Africano. No comer, e beber, muito parco, nas cousas da Religião sumamente pio. Os princípios e fins do seu Reinado foram por extremo infelizes. Naqueles, pela morte do Infante Dom Pedro, seu tio, sogro, e tutor, a quem devia grandes demonstrações de amor, e veneração, e de suma vigilância na criação da sua pessoa, e governo da República. Nestes, pelo segundo casamento, empenhos, e guerras, em que entrou com pouco conselho, e de que saiu com menos reputação. Pelo que determinava recolher-se, e tomar o hábito de São Francisco no Convento de Varatojo, que havia fundado.
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