15 de jul. de 2019

O VENERÁVEL ARCEBISPO D. Fr. BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES (16 de Julho)

Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, foi natural de Lisboa, Religioso da Sagrada Ordem dos Prégadores, e um dos mais excelentes Varões, que ela teve desde os seus primeiros fundamentos: foi insignemente Grande, assim na Compreensão das ciências, como no exercício das virtudes; apesar de extraordinárias diligências, que fez, por não sair do sossego da sua cela, o nomeou a Rainha Dona Catarina (Regente, então, do Reino) Arcebispo de Braga, e naquela excelsa Dignidade, deu tão ilustres provas de zelo, de vigilância, de beneficiência, e de amor, e caridade Pastoral, que renovou os heroicos exemplos, e nobilíssimas acções dos primitivos Padres da Igreja; contente com o preciso trato, e sustento para si, e para um curto número de Capelães, e criados, tudo o mais das suas rendas era dos pobres. Visitou por vezes o Arcebispado, não para tosquiar as suas ovelhas, mas para lhe dar o pasto espiritual da doutrina, e também o material, remediando com grossas esmolas, aos que achava necessitados: chegou a partes, onde nunca havia chegado outro algum Arcebispo, porque se dilatavam muito mais, que os longes das terras, os espaços da sua caridade. Gostava de prégar, e ensinar, e ministrar os Sacramentos aos pobrinhos do campo, humilde com os humildes; mas desses Prelados que Deus, pois não escolheu para fundamento da sua Igreja as altas qualidades, senão as humildades profundas. Foi ao Concílio Tridentino, e fez a jornada sem vãs ostentações, que só servem à vaidade, em detrimento da pobreza: onde havia Convento da sua Religião [Ordem Dominicana], nele ia pousar, com um companheiro do seu hábito, deixando a hostiária os poucos criados, que o acompanhavam, e sucederam-lhe alguns casos galantes, porque talvez dava com Prelados, que não gostavam de hóspedes, ou eram menos cuidadores do trato deles, donde nascia levar algumas más respostas, e piores ceias; mas essas mesmas desatenções, e desprezos à sua pessoa, era o seu prato mais regalado: se depois o conheciam, e lhe pediam perdão (como sucedeu muitas vezes) então os abraçava com terníssimas demonstrações de afecto, e instava, em que não havia de admitir singularidades, declarando com muitas veras, que só se alegrava, e dava por bem agasalhado, quando o tratavam como a qualquer Frade particular da sua Ordem. No Concílio foi logo conhecida, e admirada a sua pessoa, e ouvido como trombeta do Céu, porque facilmente se divisava nele um desejo ardentíssimo do bem comum da Igreja, sem atenção alguma a respeitos particulares: quando lançava o seu voto, todos o escutavam com profundo silêncio, e já sabiam, que havia de votar sem carne, e sangue. Tratando-se do modo, que era bem se reformassem as partes do corpo místico da Igreja, se ia passando  em claro o sagrado Colégio dos Cardeais, como se nenhuma relaxação pudesse subir tão alto; mas ele, com semblante inteiro, e severo, e com os olhos, e coração em Deus, e no bem comum da Cristandade, e na reputação do mesmo Concílio, disse: Os Reverendíssimos, e Ilustríssimos Cardeais (não tinham até então maior tratamento)  hão mister uma reverendíssima, e ilustríssima reforma. Assim votava geralmente em todas as matérias; passou a Roma, e recebeu grandes honras do Sumo Pontífice Pio IV e o mesmo Pontífice conferia com ele as dependências públicas, e gravíssimas, que ocorreram por aqueeles tempos: deu-lhe por muitas vezes a sua Mesa, e lhe fez outros singularíssimos favores. Voltando a Portugal, teve uma boa ocasião de mostrar o quanto zelava as preeminências da sua Primazia, porque com a Cruz Primacial arvorada atravessou por toda Hespanha, e pela mesma Cidade de Toledo, e Côrte de Madrid. Restituído à sua Igreja tratou de praticar nela as disposições do Concílio, e a esse fim convocou Sínodo, e nele estabeleceu santíssimas leis, e arrancou antigos abusos, emendando, e castigando vícios, mas sempre com mais suavidade, que rigor; erigiu o nobre Seminário de Braga, e um Colégio para a Religião da Companhia na mesma Cidade, e um Convento na Vila de Viana para a sua Religião, no qual se recolheu pouco depois, renunciando a Dignidade, cansado já de tantas fadigas, e querendo viver também para si algum tempo: ali, como se entrara a ser Noviço, começou a seguir a vida comum, e a exercitar-se nos empregos mais humildes da Ordem, quanto os achaques, e os anos lhe davam lugar: não perdeu o costume inveterado de dar esmolas, e vez houve, em que chegou a dar a própria cama, ficando dormindo por algum tempo nas tábuas: viveu neste seu Convento oito anos, e tantos teve de preparação próxima para a morte, sucedida  santíssimamente neste dia [16 de Julho], ano de 1590. Com setenta e seis de idade: Jaz no mesmo Convento de Viana com gerais aclamações de Santo. 

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