O Venerável Frei Tomé de Jesus foi filho de Fernão Álvares de Andrade, Cavalheiro muito ilustre do tempo delRei Dom João III e do seu Conselho de Estado, e de sua mulher, Dona Isabel de Paiva, os quais tiveram três filhos, e uma filha; esta foi Dona Violante de Andrade, Condessa de Linhares, mulher do Conde, Dom Francisco de Noronha: os filhos foram Diogo de Paiva de Andrade, cujas letras, e virtudes, lhe granjearam singulares estimações do Concílio Tridentino: Frei Cosme da Apresentação, Eremita Augustiniano, Teólogo de grande nome; e o nosso Frei Tomé de Jesus. Nasceu este em Lisboa, e tomou o hábito da mesma Religião Eremítica [Ordem religiosa eremítica], na qual viveu em suma reputação de observante Religioso. Acompanhou a ElRei Dom Sebastião na infeliz jornada de África, onde ficou cativo, e padeceu imponderáveis mi´serias, e tribulações; mas essa mesma opressão do corpo lhe acrisolava o espírito. Preso em um masmorra, a muito escassa luz, e a espaços furtados, compôs o devotíssimo livro, que intitulou: Trabalhos de Jesus. Com tão soberano exemplar aos olhos, não perdoava a trabalho, nem a desvelo, em benefício dos miseráveis cativos. Pregava, confessava, dizia Missa, assistia, e servia a todos nas doenças,a todos consolava nas tribulações, confortava na Fé, animava ao sofrimento, e paciência. Querendo a Condessa ,sua irmã tratar do resgate, lhe rebateu intento com estupenda, e inflexíveis resolução, antepondo a todos os respeitos, e conveniências desta vida, a caridade com os próximos. Nesta heroica empresa acabou santíssimamente em Marrocos, neste dia [17 de Abril]. em que caiu então a primeira Oitava da Páscoa, no ano de 1582 com cinquenta e três de idade, trinta e oito de Religião, quatro de cativeiro. Além do livro: Trabalhos de Jesus, reimpresso muitas vezes, e traduziu nas principais línguas da Europa, compôs outros, todos com igual espírito, com pena sempre igual.
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