|
A Rainha D. Maria. Pormenor, vitral da Igreja Sta. Maria da Vitória do Mosteiro da Batalha (Portugal). |
No mesmo dia [7 de Março], ano de 1517 faleceu em Lisboa, no Palácio da Ribeira, a
Rainha Dona Maria, segunda mulher
delRei Dom Manoel, filha dos Reis Católicos, com trinta e cinco anos de idade. Foi Princesa de muitas virtudes, singular, na da esmola, em que gastava a maior parte das suas rendas. Era muito contínua em orar, e meditar: Cozia, e lavrava com as suas Damas, e moças da Câmera, consagrando os frutos deste seu trabalho ao culto dos Altares. Era por extremo compassiva com aquelas pessoas, que de abundância caiam em pobreza. Pedindo-lhe uma viúva, que quisesse interceder com ElRei, para que lhe perdoasse a metade de uma dívida, que seu marido ficara devendo à fazenda Real, alegando, que só assim poderia amparar duas filhas, lhe respondeu a Rainha: "
E não seria melhor, que ElRei meu senhor vos perdoasse a dívida toda? Ora confiai em Deus que assim se fará"; e com efeito assim se fez, por sua intercessão. Não cessava em repetir semelhantes súplicas a favor dos pobres, dos presos, dos cativos; e achando uma vez ElRei triste, e carregado, (que os Reis não são isentos das paixões de homens) e vendo, que lhe dizia, como agastado: "
Senhora, não fiz já tantas cousas, que me pedistes?", a Rainha, com admirável serenidade, e discretíssima prontidão, lhe tornou, dizendo esta sentença de ouro: "
Senhor, os Reis nunca hão de cansar de fazer bem". Criou seus filhos sem mimo, e por isso saíram todos, tão perfeitos, e generosos Príncipes, como viu, e admirou Europa. Edificou o Convento de Berlengas de Religiosos Jerónimos, que depois se mudou para
Valbemfeito [Vale Benfeito]. Foi sepultada no Mosteiro da Madre de Deus de Xabregas, e tresladada depois para o de Belém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário