DOM Frei António de Gouvea, natural de Beja, da nobre família do seu apelido [sobrenome]. Estudou na Universidade de Évora, e fez grande progressos nas letras divinas, e humanas. Entrou na sagrada Religião [Ordem Religiosa] dos Eremitas de Santo Agostinho, e passou à Índia, e de Goa à Pérsia, por Embaixador do Governador Aires de Saldanha, para solicitar com aquele Rei, que rompresse guerra com o Turco, e achou nele tanta benevolência, que não só rompeu a guerra, como se pretendia, mas lhe concedeu licença para levantar Igreja na sua Corte, e prégar a Mouros, e Gentios. Foi copioso o fruto, que colheu, convertendo grande número de almas. Os Arménios abjuraram os seus erros, e deram obediência ao Pontífice Romano, e entre eles reduziram sete Bispos, e um Príncipe, cunhado do Xá, ou Rei da Pérsia. Com um seu Embaixador, voltou Frei António a Portugal, donde (já feito bispo Cirene, e com poderem de Núncio, e Legado Pontifício) voltou outra vez para a Pérsia, onde achou mui perturbado o estado das cousas, e padeceu muitas contradições, e gravíssimos trabalhos pela variedade daquele Rei. Voltando a Europa, foi cativado pelos Mouros, que dois anos o atormentaram cruelmente, e depois resgatado, chegou a Hespanha, e faleceu na Vila de Mançanares, junto a Madrid, neste dia [18 de Agosto], ano de 1628. Escreveu, e imprimiu as vidas de Santa Clara de Monte Flaco; de São João de Deus; de três Mártires da sua Religião [Ordem Religiosa] de Santo Agostinho; da conversão, que no Malavar fez o Arcebispo de Goa, Dom Frei Aleixo de Meneses; mas sua Relações das guerras, e missões da Pérsia; e um Sermão, que prégou nas exéquias do Governador da Índia, André Furtado de Mendonça.
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