No mesmo dia [3 de Julho], em Sábado, ano de 1638 se abriu no mar, uma para duas léguas de distância na Ilha de S. Miguel, defronte do monte, chamado das Camarinhas, uma espantosa boca de fogo, sem que o peso das águas, ainda que em altura de cento e cinquenta braças, pudesse oprimir ou rebater aquela impetuosa fúria. Com a mesma despedia, por entre vivas chamas, e negras cerrações, pedras, arca e água, levantando tudo até às nuvens. De quanto em quando arrojava penedos de tão estupenda grandeza, que apreciam montes, e levantando-os em altura de três lanças ao ar, tornavam a cair na própria boca, donde haviam saído; e muitas vezes ao cair, se encontravam com outros, que subiam e se despedaçavam uns e outros com horrendo estrondo: andavam pasmados e atónitos os moradores da Ilha, temendo, que aquela boca voltasse contra ela, e a tragasse de um bocado; mas quis Deus, que se desfez e extinguiu no mesmo sítio em que se abrira, sem outro dano, mais que o de infinitos peixes, que o mesmo fogo assou, ou cozeu dentro na água, e o mar arrojou às praias.
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