8 de mai. de 2018

A SENHORA D. MARIA PRINCESA DE PARMA (8 de Maio)

D. Maria de Portugal
(by António Moro - 1550)
A Princesa D. Maria filha mais velha dos Infantes D. Duarte, e D. Isabel, foi dotada de singulares virtudes, e excelentes prendas: Falava a língua Latina com expedição, e elegância admirável; da Grega teve muitas notícias, assim da Filosofia, e Matemática, e de outras Ciências; na lição da Sagrada Escriptura, se empregava com aplicação particular, e dela, e dos Santos Padres colheu muitas sentenças de que usava na prática, e com que se a fervorava no amor de Deus, e das virtudes, e ascendia o mesmo amor, nos corações dos que a ouviam. Passava muitas horas do dia em Oração mental, muitas na vocal, e muitas em tecer, ou coser para ornato dos Templos, ou para abrigo dos pobres. Foi honestíssima em palavras, e acções, e dizia: Que da virtude da honestidade, mais que de outra alguma se deviam prezar, e gloriar as mulheres; por esta causa se furtava (quanto lhe era possível) aos actos públicos, e muito mais aos livros em que achava a menor sombra de indecência. Jamais quis dar o braço a algum dos Cortesões que a serviam: Estilo que sempre teve mais melindre, que de necessidade. Desposada com o Príncipe Alexandre Farnezio, terceiro Duque de Parma, e de Placência, Alferes mór da Igreja, e famosíssimos Governador de Flandes. E conduzida a Flandes (como em outros lugares dizemos) partiu para Itália, onde foi recebida com grandes festas, e maiores admirações das suas estremadas virtudes; com o exemplo delas reformou a Cidade de Parma, e especialmente o Palácio; fez arrancar muitos abusos que havia, e introduziu vários exercícios de devoção; e piedade: Teve dois filhos e uma filha, que foram das suas Orações: Rainuncio, sucessor da Casa, e, Odoardo Cardeal de Santo Eustáquio, Bispo Tusculano, e Margarida Duquesa de Mantua,... foi Freira em Placência. Aplicou-se com vigilantíssimo cuidado em os criar no amor e temor Santo de Deus e, amando-os, mais que a sua própria vida, dizia com muitas veras: Que antes os queria ver mortos, do que caídos em alguma culpa grave: Dito, que aprendeu da Rainha D. Branca mãe de S. Luís [IX]. O príncipe seu marido a venerava, não só como a Santa, mas como a poderosa protectora; na célebre batalha de Lepanto entrou com ímpeto juvenil numa galé de Turcos, e esteve em grande perigo de perder a vida, ou a liberdade; e estranhado-lhe seu tio D. João de Áustria aquele extremo valor, que tocava em temerário, lhe respondeu: Que lhe ficava em casa o seguro de todos os perigos, aludindo às Orações da Princesa sua mulher. No tempo que o Príncipe andou nas guerras (que foi largo) governou os Estados de Parma, e Placência, com suma inteireza, e igualdade: Era negócio de admiração o grande juízo, e acerto, com que resolvia os pontos de maior dificuldade, nas coisas e causas de uma e outra justiça, a que dá os castigos, e a que distribui os prêmios; razão, porque de todos era singularmente amada; e tida em suma veneração.
Correspondeu aos progressos de tão santa vida uma preciosa morte, na qual deu singularíssimas provas de constância, de paciência, de resignação, de desprezo das cousas temporais, e de apreço, e ânsia das eternas. Morreu neste dia [8 de Maio] ano de 1577 em Parma, onde até hoje se conservam vivas a memória, e a saudade desta esclarecida Princesa. Compôs um Directório espiritual, cheio de sentenças dos Santos Padres, e de altíssimas ponderações, que lhe foi achado depois de sua morte entre as suas joias de maior preço, e por ele regulou sempre as suas acções. Escreveu a vida desta Senhora o Padre Sebastião de Moraes da Companhia [de Jesus], seu Confessor, que depois foi o primeiro Bispo do Japão.

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